O envenenamento ocasionado por serpentes tem sido subestimado no mundo e atinge na grande maioria, trabalhadores rurais. Na região Norte, o problema é agravado devido a distância entre os locais de ocorrência do acidente e o local de atendimento hospitalar. Tem como objetivo caracterizar o perfil epidemiológico das vítimas de envenenamento por serpentes peçonhentas admitidas no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (CEMETRON).
MetodologiaEstudo prospectivo, clínico e epidemiológico realizado no CEMETRON com pacientes vítimas de mordedura de cobra entre os meses de janeiro de 2020 a julho de 2021. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE: 17032819.0.0000.0011). Para as análises estatísticas foi utilizado o SPSS® versão 25.0.
ResultadosForam incluídos 133 pacientes que tiveram diagnóstico médico de acidentes ocasionados por serpentes. A faixa etária foi de 6 a 86 anos, com predomínio dos casos para o sexo masculino, sendo 96 (72,2%), e 37 (27,8%) do sexo feminino. Do total, 103 (77,4%) provenientes da zona rural e 30 (22,6%) da zona urbana, com 98 (73,7%) oriundos do município de Porto Velho, e 35 (26,3%) do interior do estado. Em relação aos cuidados pré-hospitalares, 17 (12,8%) adotaram o uso de torniquete, e 24 (18%) tomaram “específico pessoa”. Entre a mordedora e a soroterapia, 86 (64,6%) buscaram atendimento em até 4 horas, 43 (32,4%) demoraram entre 4 e 24 horas e 4 (3%) mais de 24 horas. Dos gêneros de serpentes responsáveis pelos acidentes, 74 (55,6%) foram botrópicos, 1 (0,75%) laquéticos, 1 (0,75%) elapídico, 30 (22,5%) por serpentes não peçonhentas e 26 (19,5%) por serpentes não identificadas pelo paciente.
ConclusãoOs acidentes ocorreram com maior frequência nos meses de dezembro de 2020 a abril de 2021, afetando trabalhadores rurais do sexo masculino, sendo 60,9% na faixa etária economicamente ativa, o que corrobora com os aspectos epidemiológicos registrados em outras regiões do Brasil. A grande maioria dos acidentes foi atribuída a serpentes do gênero Bothrops, atingindo, sobretudo, os membros inferiores. Sobre o uso de terapia alternativa, em 18% dos pacientes, chama atenção a ingesta de “específico pessoa”, utilizado na medicina popular, sendo este, oriundo de ervas medicinais com princípio ativo não muito bem estabelecido. Das vítimas que buscaram atendimento médico, apenas uma obteve cura com sequela em decorrência do envenenamento, as demais obtiveram evolução clínica para a cura sem sequelas.