Abscesso cerebral é uma doença frequente no campo da neurocirurgia e de mau prognóstico se não tratado convenientemente e a tempo. Pode ser resultante da disseminação de uma infecção, trauma prévio, procedimento neurocirúrgico ou imunodepressão.
ObjetivoDescrever a etiologia, sintomatologia, topografia e desfecho dos pacientes com abscesso cerebral atendidos em um hospital especializado em neurocirurgia do Estado do Rio de Janeiro, no período entre outubro de 2013 a agosto de 2021.
Material e métodosFoi um estudo retrospectivo, no qual foi realizada uma revisão de todos os laudos histopatológicos feitos no período do estudo, resultados de culturas microbiológicas e dos prontuários de pacientes com o diagnóstico clínico e radiológico deste agravo, em pacientes com mais de 18 anos.
ResultadosForam diagnosticados 82 casos de abscessos cerebrais. A idade dos pacientes atendidos variou entre 19 a 81 anos, com mediana de 49 anos. Houve predomínio do sexo masculino (n = 50, 61%). Toxoplasmose foi a etiologia predominante, sendo responsável por 29 casos (35,4%). Nestes pacientes a doença de base predominante foi AIDS. A etiologia bacteriana comum (Gram positivos e Gram negativos) foi a 2ª principal causa deste agravo, com 25 casos (30,5%), sendo que 13 (52%) foram por cocos Gram positivos. Houve sete casos de tuberculose cerebral (8,5%). Ocorreram cinco casos de sífilis, cinco de criptococose, três casos de neurocisticercose e em dois pacientes o histopatológico sugeriu infecção por citomegalovírus associado a outros agentes. AIDS foi a principal comorbidade com 26 pacientes (53,6%) e entre estes, 12 pacientes (46,2%) desconheciam esta condição. Os sintomas mais frequentes foram cefaléia e rebaixamento do nível de consciência, presente respectivamente em 29 (35,4%) e 18 (21,9%) casos. A localização mais frequente foi frontal (n=12). Durante a internação na instituição houve 14 óbitos (17,1%). Conclusão: A frequência do diagnóstico de toxoplasmose em abscesso cerebral pode estar relacionada a prevalência de AIDS no Estado do Rio de Janeiro. Portanto deve ser considerada a testagem para HIV em pacientes com lesões expansivas sem diagnóstico. A despeito da literatura considerar a neurocisticercose como a doença parasitária mais comum do sistema nervoso central, na nossa casuística foi responsável por apenas 3,7% dos casos.