14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoO SARS-CoV-2 iniciou sua jornada de impactação sobre a humanidade levantando incógnitas quanto ao agente causal e suas possíveis complicações. A análise fisiopatológica evidenciou disfunções orgânicas relacionadas a tal moléstia, como a agranulocitose, que reserva um manejo desafiador e um prognóstico potencialmente desfavorável.
ObjetivoAnálise do caso de um paciente SARS-CoV-2 positivo com quadro secundário raro, a agranulocitose.
MétodoRealizada avaliação da evolução clínica, desde o início dos sintomas até a resolução do quadro de agranulocitose. As informações foram obtidas sob termo de consentimento aceito pelo paciente.
ResultadosHomem, 41 anos, apresentou tosse seca e inapetência há 20 dias. Inicialmente tratado como síndrome gripal com Azitromicina, Ivermectina e Prednisona. A despeito do teste SARS-CoV-2 positivo, prescreveu-se Amoxicilina com Clavulanato. Porém, retornou com progressiva inapetência, astenia, hiporexia e emagrecimento. Negou comorbidades, uso de medicações, tabagismo e etilismo. Ao exame: regular estado geral, descorado 2+/4+, desidratado 1+/4+, eupneico e afebril. Saturava 92%, com murmúrio vesicular presente bilateralmente e estertores crepitantes bibasais. Na Tomografia de tórax evidenciou opacidades em vidro fosco multifocais e multilobulares bilaterais, associadas a bandas parenquimatosas, com comprometimento pulmonar acentuado. Após leucogramas seriados, notou-se neutropenia progressiva atingindo a agranulocitose 20 dias após o início dos sintomas. Na internação foi tratado com Metilprednisolona, Enoxaparina, Ceftriaxona e Piperacilina com Tazobactam. Com enfoque na leucopoiese, foram administrados Complexo B, Ácido fólico, Cianocobalamina e Filgrastim, evoluindo favoravelmente nos aspectos clínicos e alcançando a normalização granulocítica.
ConclusãoA agranulocitose é uma condição raramente associada à COVID-19. Entretanto, algumas citocinas, como o Interferon-Alfa, têm substancial capacidade de afetar negativamente a granulopoiese. Dessa forma, pacientes com elevada produção dessa substância, têm risco potencializado de desenvolver tal quadro, o que provavelmente acometeu o paciente em questão. A tempestade de citocinas propiciada pelo SARS-CoV-2 é capaz de alterar diversas vias metabólicas. Com isso, observa-se estreita relação entre o caso relatado e o mecanismo de supressão da neutropoiese supracitado. O que indica a necessidade de novas pesquisas nesse campo temático para assertivo diagnóstico e conduta em futuros pacientes.