A prevalência de infecções causadas por CA-MRSA tem aumentado globalmente. No Brasil, sua epidemiologia ainda é pouco conhecida. Estudos genotípicos já demonstraram correlação entre perfis de sensibilidade e tipos de cassetes cromossômicos associados a CA-MRSA (SCCmec tipos IV ou V). Perfis fenotípicos podem auxiliar como marcadores sugestivos de CA-MRSA em estudos epidemiológicos.

Estimar a prevalência e a tendência temporal de perfis sugestivos de CA-MRSA no Estado de São Paulo, Brasil, entre 2011 e 2019.

Análise retrospectiva em base de dados de laboratório clínico entre 2011 e 2019, com isolados em cultura de Staphylococcus aureus (SA) únicos por paciente, identificados em amostras clínicas de rotina e com antibiograma (método conforme rotina e padronizado por BrCAST do respectivo ano). A sensibilidade a clindamicina (CLI), ciprofloxacino (CIP) e Sulfametoxazol/trimetroprim (TMP-SMX) com resistência concomitante a oxacilina (OXA) foram usados como perfis sugestivos de CA-MRSA. As taxas de OXA-R com CLI-S ou CIP-S ou TMP-SMX-S foram calculadas utilizando o número total de isolados para cada antibiotico por ano. A tendência temporal foi estimada utilizando-se o modelo Prais-Winsten, expresso por annual percent change (APC) com intervalo de confiança (95% CI).

No total, 50,858 isolados de SA foram identificados entre 2011 e 2019 (22,346 (42.8%) hemoculturas, 6,820 (13.1%) uroculturas e 23,058 (44.1%) de outros materiais). Destes 21,677 eram OXA-R (42.6%), com 4,442 (20.5%) CLI-S, 4,230 (19.7%) CIP-S, e 21,484 (99.1%) TMP-SMX-S. No período, houve tendência de aumento para os perfis OXA-R + CLI-S (APC 6.92; 95% CI: 0.91 a 13.29), estacionária para OXA-R + CIP-S (APC -6.35; 95% CI: -20.14 a 9.83), e de redução para OXA-R + TMP-SMX-S (APC -2.63; 95% CI: -3.53 a -1.71).

O perfil OXA-R + CLI-S já foi correlacionado a perfil genotípico sugestivo de CA-MRSA. Este perfil representou 20.5% do total de MRSA e 8.7% do total de SA detectados no estado, tendo havido aumento temporal de detecção deste fenótipo ao longo dos anos. Marcadores fenotípicos sugestivos de perfis epidemiológicos podem ser úteis em estudos com grandes bases de dados, potencialmente otimizando recursos e o uso de marcadores genéticos ou moleculares.