A criptococose é uma infecção fúngica, habitualmente invasiva e associada a condições de imunodeficiência, de distribuição universal. Apresentações da doença restrita à pele por inoculação do fungo, com ausência de disseminação sistêmica, são incomuns e chamadas de criptococose cutânea primária. Poucos relatos de casos estão disponíveis na literatura, sobretudo por infecção criptocócica não neoformans.

Relatar um caso raro de criptococose cutânea primária por Cryptococcus laurentii em idoso imunocompetente.

Relato de caso e revisão da literatura.

Homem de 89 anos, com hipertensão arterial sistêmica, doença renal crônica não dialítica, ex-tabagista e ex-etilista, foi internado no Hospital Estadual de Américo Brasiliense/SP com lesão cutânea em antebraço direito de aspecto eritemato-acastanhada, com crostas, nodulações e uma lesão ulcerada, com necrose central e sem secreção, de evolução há 3 semanas, além de edema e calor no local. Antes do surgimento desta lesão, ocorreu perfuração no antebraço direito por um espinho de laranjeira ao cuidar de seu jardim. Foi realizada uma biópsia da lesão nodular do antebraço com o diagnóstico histopatológico de dermatite fúngica compatível com criptococose, com coloração de GMS positiva e na cultura da pele realizada por método automatizado foi evidenciado Cryptococcus laurentii. A pesquisa de antígeno criptocócico no sangue foi negativa e, além disso, a análise liquórica e a tomografia de tórax também não demonstraram disseminação da doença para outros sítios. A sorologia para HIV resultou negativa e o paciente não apresentava nenhum outro fator de imunossupressão. O tratamento foi iniciado com fluconazol na dose de 200mg ao dia, sendo ajustada para a taxa de filtração glomerular do paciente, e a programação de uso será de 6 a 12 meses.

A criptococose cutânea primária é uma infecção rara, sobretudo quando ocasionada por espécies atípicas do fungo. Neste relato observamos esta micose restrita à pele, em um paciente idoso e imunocompetente, causada por Cryptococcus laurentii. Na literatura médica encontramos poucos relatos desta doença. Para confirmar apenas o envolvimento cutâneo, devemos realizar uma busca de acometimento sistêmico, principalmente de sistema nervoso central e pulmão, além de investigar fatores de imunossupressão durante a avaliação do paciente. O diagnóstico precoce é extremamente importante para tratamento oportuno e evolução para um desfecho favorável desta infecção potencialmente ameaçadora à vida.