Paciente JAP, masculino, 85 anos, médico, admitido em unidade de internação por encaminhado de ortopedista devido saída constante de secreção purulenta em fístula de cistostomia. Quadro refratário ao uso de antibióticos orais. Paciente com antecedente pessoal de osteomielite crônica em sínfise púbica, IAM, FA, HAS, dislipidemia, neoplasia de próstata e ITU de repetição.

Paciente em acompanhamento prévio devido neoplasia de próstata já tratada com prostatectomia seguida de radioterapia. Evoluiu com estenose crônica de uretra com necessidade de múltiplas sondagens vesicais de alívio. Com a finalidade de melhorar qualidade de vida, passou por abordagem cirúrgica com realização de cistostomia. Na admissão atual apresentava-se com saída de secreção por fístula vesical, que não cessou após antibioticoterapia VO por 30 dias. Indicada abordagem cirúrgica para fistulectomia e desbridamento. Durante o procedimento foi identificada vascularização comprometida em região púbica e foram coletadas amostras de tecidos moles/ósseos para cultura e avaliação anatomopatológica. Ainda no intraoperatório, foi colocada esponja de gentamicina sobre a lesão e iniciada antibioticoterapia EV empírica. Em cultura de fragmento ósseo identificou-se a bactéria Globicatella sanguinis, que se mostrou sensível a vancomicina ao antibiograma. Realizadas demais culturas, porém todas elas com resultado negativo (BAAR, anaeróbios e fungos). Ao anatomopatológico foram identificadas alterações compatíveis com trajeto fistuloso e micro sequestros ósseos com focos de fibrose e infiltrado inflamatório crônico. Paciente evoluiu com melhora clínica, respondendo bem ao tratamento proposto e recebeu alta após poucos dias de internação. Continuada antibioticoterapia EV com Daptomicina via homecare durante 8 semanas associada a sessões de oxigenioterapia hiperbárica adjuvante.

A osteomielite crônica representa uma patologia de diagnóstico etiológico e tratamento desafiadores devido sua ampla diversidade. Visto isso, podemos identificar agentes etiológicos como o Globicatella sanguinis que é extremamente raro e possui poucos relatos na literatura relacionados a esta patologia. Esse coco gram positivo geralmente relacionado com infecções de corrente sanguínea, sistema nervoso central e trato urinário, embora seja de difícil identificação por métodos fenotípicos usuais, possui relevância na suspeita clínica principalmente quando temos uma infecção com proximidade ao trato urinário e deve ser considerado.