14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoAcidentes com serpentes são um problema de saúde pública no Brasil, classificados como doença negligenciada. Foram notificados 29.543 casos de acidentes ofídicos em 2022, e os maiores coeficientes de incidência por ofidismo foram observados na Região Norte (55,26/100 mil hab.), cerca de 4,1 vezes o coeficiente de incidência do Brasil. No Estado de Roraima, houve a maior incidência, 68,64/100 mil hab., principalmente devido à sua população indígena significativa e à extensa cobertura da Floresta Amazônica na região. As principais serpentes de importância médica do Brasil são dos genêros Bothrops (jararaca), Crotalus (cascavéis), Lachesis (surucucu-pico-de-jaca), Micrurus (corais-verdadeiras).
ObjetivoO objetivo desse estudo é conhecer o perfil clínico-epidemiológico dos acidentes ofídicos ocorridos em Roraima.
MétodoTrata-se de um estudo baseado em análises de casos e descritivo, envolvendo indivíduos acometidos por acidentes ofídicos e internados no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento (HGR), que deram entrada durante o período de julho de 2023 a abril de 2024. Este estudo foi devidamente aprovado pelo CEP/CONEP (CAAE 24120719.5.0000.5302).
ResultadosForam coletados 15 casos, sendo 11 pacientes foram afetados por serpentes do gênero Bothrops, com 3 casos leves, 4 moderados e 4 graves. Por outro lado, foram registrados 2 casos moderados envolvendo serpentes da gênero Crotalus. Além disso, houve 2 casos classificados como indefinidos. Em relação aos dados epidemiológicos, 90% dos pacientes eram do sexo masculino, com idades entre 18 e 58 anos. Todos não eram residentes de Boa Vista, sendo 73% de etnias indígenas e o restante de cor parda. Os acidentes ocorreram principalmente nos municípios de Alto Alegre, Cantá e Amajari. Ao todo, 07 pacientes relataram ter usado um "antídoto caseiro" chamado "Específico Pessoa". Outras medidas pré-atendimento foram relatadas, como lavar com água e sabão, realizar torniquete e furar o local da picada com ponta de faca. Quanto ao uso da escala visual da dor, 90% dos pacientes indicaram o nível máximo de dor, que é 10.
ConclusãoObservou-se predominância de acidentes botrópicos sobre os crotálicos, em consonância com o padrão nacional. Os indígenas, com baixo nível socioeconômico e educacional e escasso conhecimento sobre acidentes ofídicos, destacam-se como a população mais afetada. A análise dos casos revelou a ausência de um protocolo único de abordagem, com variabilidade na pré-medicação, antibióticos e critérios de internação.