14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoQueixas articulares de diversas etiologias podem ocorrer no contexto da tuberculose (TB). A infecção pelo bacilo, na sua forma extrapulmonar, pode causar artrite crônica, geralmente mono ou oligoarticular, com inflamação sinovial, fistulização e destruição óssea. O tratamento com antituberculostáticos, por sua vez, pode estar relacionado à dor articular, acompanhado ou não de hiperuricemia. Uma causa subdiagnosticada de artralgia é o Lúpus Induzido por Drogas (LID). Esta condição, se não for reconhecida precocemente, poderá evoluir com formas graves como pleurite, pericardite, acometimento renal e do sistema nervoso central, confundindo o médico assistente com TB disseminada, ou TB resistente, ou ainda com síndrome de reconstituição imune.
ObjetivoAlertar aos profissionais de saúde sobre uma condição pouco comentada: o Lúpus induzido pelo tratamento para tuberculose.
MétodoRelato de caso e revisão da literatura.
ResultadosPaciente do sexo feminino, 37 anos, sem comorbidades prévias. Iniciou o tratamento para TB pulmonar com rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol (RHZE) com melhora das queixas respiratórias. Entretanto, relatou artralgia no quinto mês do tratamento, principalmente em mãos, punhos, cotovelos e joelhos, sem edema ou outros sinais flogísticos. O ácido úrico estava normal. Sorologia para HIV negativa. Nega doenças reumáticas na família. Realizou o fator antinuclear (FAN) com titulação 1:160 e padrão pontilhado fino, levantando à suspeita de Lúpus induzido pelos antituberculostáticos. Houve melhora parcial com prednisona em dose anti-inflamatória e recuperação gradual após concluir o tratamento para tuberculose.
ConclusãoO médico que acompanha pacientes com TB deverá incluir a dosagem de auto-anticorpos na investigação de artralgia. O Lúpus induzido pela rifampicina e isoniazida resulta de uma reação anormal aos fármacos com produção de anticorpos anti-histona. Clinicamente, pode ocorrer artralgia, urticária e eritema nodoso, ao contrário do Lúpus eritematoso sistêmico (LES) idiopático em que predomina aftas, alopécia e fotossensibilidade. O LID também faz diagnóstico diferencial com síndrome DRESS (porém, não cursa com eosinofilia marcante) e com reações de hipersensibilidade, apesar da apresentação insidiosa. Se reconhecido precocemente, pode ser reversível com a suspensão do agente indutor. Por outro lado, se persistir, poderá evoluir para formas sistêmicas com necessidade de imunossupressores, os quais poderão resultar na piora do quadro infeccioso.