Endocardite infecciosa (EI) é uma enfermidade rara, com alta morbidade e letalidade. A lesão anatômica básica da patologia é a vegetação no endocárdio valvar. Por apresentar manejo clínico-cirúrgico complexo, preconiza-se uma equipe multiprofissional, visando melhorar o prognóstico. Apesar dos avanços epidemiológicos de EI em sociedades internacionais, ainda são escassos os estudos de coortes de EI no país, o que dificulta a criação de um guia de diagnóstico e tratamento nas sociedades brasileiras.
ObjetivosApresentar aspectos epidemiológicos, etiológicos e clínicos de pacientes com EI associados ao desfecho final da internação hospitalar de uma coorte do time de EI em um hospital universitário (HU) do Rio de Janeiro (RJ).
MetodologiaEstudo observacional, prospectivo, de 2009 a 2021, coorte de 119 pacientes em um HU. O projeto foi desenvolvido num hospital de 600 leitos no RJ. As análises estatísticas foram realizadas no Software Stata 15.0 (StataCorp LP; College Station, TX, USA). A regressão de Poisson foi usada para estimar as tendências temporais na incidência e mortalidade de EI. A análise de sobrevivência foi realizada usando o método Kaplan-Meier e as curvas foram comparadas usando o teste de log-rank.
ResultadosForam incluídos nesta análise 113 casos de EI, excluindo-se 6 pacientes. No período de estudo, foram admitidos 146.828 pacientes no HU. A média de idade entre o grupo alta hospitalar e óbito foi 39 e 62 anos, respectivamente. A cardiopatia congênita se relacionou com o desfecho de alta hospitalar em 18% desta coorte (p = 0.02). Os pacientes com idade ≥ 60 anos (RR = 2.1; IC 95% 1.1-4.1), doença renal crônica (RR = 2.2; IC 95% 1.2-3.9) e bacteremia positiva para Enterococcus spp. (RR = 2.1; IC 95% 1.1-3.8) tiveram maior risco de mortalidade no estudo. A análise de sobrevivência demonstrou que a mortalidade em 30 dias foi menor nos pacientes com tratamento cirúrgico (p = 0.03). Evidenciamos uma tendência de redução da taxa de mortalidade da coorte, sendo de 6.0 por 1.000 pessoas-ano em 2010 para 3.6 por 1.000 pessoas-ano em 2020.
ConclusãoA incidência de EI foi de 7,75 casos para cada 100.00 internações e a letalidade de 45,1%. Os pacientes com idade ≥ 60 anos, doença renal crônica e bacteremia positiva para Enterococcus spp. tiveram maior risco de mortalidade. Observamos uma tendência de queda na taxa de mortalidade anual por EI desde o início do projeto.