XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA coexistência de duas grandes crises de saúde pública, HIV e COVID-19, aumentou a vulnerabilidade das pessoas vivendo com HIV (PVHIV) no Brasil. No entanto, o entendimento do risco e das características clínicas associadas aos desfechos da COVID-19 em PVHIV, especialmente em países de baixa e média renda, ainda é limitado e conflitante. Por isso, buscamos comparar a mortalidade dos casos graves de COVID-19 entre PVHIV e não-PVHIV, e identificar as características clínicas associadas ao desfecho clínico usando os dados populacionais do Brasil.
MétodosTrata-se de estudo de coorte retrospectivo pareado por escore de propensão que utilizou dados públicos do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe. Foram incluídos os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pelo SARS-CoV-2, confirmada laboratorialmente, de indivíduos adultos. Os casos foram pareados 1:3 por idade, sexo, comorbidades e índice de desenvolvimento humano do município de residência. As diferenças no tempo até o resultado clínico foram avaliadas com uma curva de Kaplan-Meier e teste de Log Rank.
ResultadosApós o pareamento, foram analisados os registros de 12.332 indivíduos, dos quais 3.083 eram PVHIV. Observou-se que PVHIV com COVID-19 apresentaram maior risco de mortalidade (odds ratio [OR]: 1,89; Intervalo de Confiança [IC] de 95%: 1,74 - 2,05; valor p:<0,001) e menor tempo até desfecho (logRank: p < 0.001). Além disso, estes também apresentaram maiores chances de necessitar de ventilação mecânica (OR: 1,30; IC95%:1,18-1,43; p-valor:<0,001) e internação na UTI (OR:1,36; IC95%: 1,25-1,48; p-valor:<0,001) em comparação com indivíduos sem HIV. Sintomas como dessaturação, vômito e dispneia foram associados à mortalidade em ambos os grupos, enquanto o vômito foi associado à mortalidade exclusivamente em pacientes com co-infecção por COVID-HIV e a dispneia foi associada à mortalidade no grupo apenas com COVID.
ConclusãoA coinfecção COVID-HIV foi associada a taxas mais altas de morte, necessidade de ventilação mecânica e internação em UTI, destacando a maior vulnerabilidade das PVHIV a desfechos graves da COVID-19.