XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoRZV, 25 anos, feminino, sem antecedentes, com mialgia, astenia, febre, dor abdominal, náuseas e vômitos. Em 4 ocasiões diferentes ao longo de uma semana procurou pronto atendimento e medicada com sintomáticos, expansão volêmica e seguimento ambulatorial. Houve piora clínica e em novo atendimento diante da suspeita de DENGUE GRUPO C realizaram expansão volêmica com RL 2000ml em 2 horas, evoluindo com dispneia aos mínimos esforços, dessaturação importante (72% em ar ambiente), hemoconcentração e plaquetopenia. Recebeu O2 suplementar e mais hidratação venosa, encaminhada à HÁ-HCRP cinco dias após o início desses sintomas por hipótese diagnóstica de dengue. À admissão apresentava-se dispneica, em uso de O2 suplementar, e crepitações difusas, mantinha pressão arterial limítrofe, com tempo de enchimento capilar prolongado. Foi acoplada à ventilação mecânica não invasiva (VNI) sem melhora, evoluindo com necessidade de intubação orotraqueal (IOT). Após IOT foi encaminhada ao CTI e considerando quadro atípico para dengue, pensamos em outras hipóteses diagnósticas, especialmente por história de cerca de 45 dias antes do início dos sintomas ter viajado para uma região de cachoeiras e ter limpado uma casa fechada em área rural, portanto coletado exames para descartar hantavirose, HIV em fase AIDS, pneumocistose, citomegalovirose, sepse e outras arboviroses. Apresentou instabilidade hemodinâmica grave, com necessidade de droga vasoativa em doses elevadas e na ultrassonografia point of care, observava-se veia cava túrgida, sem variação com a respiração, e disfunção cardíaca biventricular importante optou-se por iniciar dobutamina pela disfunção cardíaca evoluindo com melhora clínica, desmame completo de noradrenalina e vasopressina. Cerca de 48h após estabilidade, apresentou melhora de função renal e de parâmetros ventilatórios, com aumento de débito urinário e balanço hídrico, quando houve resultado POSITIVO para HANTAVIROSE por RT-PCR e ELISA IgM REAGENTE. Diante do adequado manejo hemodinâmico foi possível extubar a paciente, que recebeu alta dias depois. A hantavirose é uma zoonose transmitida através da inalação de partículas presentes na urina de roedores contaminados, tendo manifestação clínica variável, com formas oligossintomáticas até febre hemorrágica com síndrome renal e síndrome cardiopulmonar por Hantavírus. O desafio diagnóstico é alto visto a prevalência alta da DENGUE, com clínica tão semelhante, porém, com manejo clínico exatamente oposto.