Entre os casos diagnosticados de SARS-CoV-2, apesar de crianças e adolescentes serem os menos acometidos, no Brasil foram registrados cerca de 2.500 óbitos por Covid-19 nesta população. Em Botucatu/SP, a tendência de casos e internações nessa população merece ser investigada, considerando a influência da vacinação em massa dos munícipes adultos em mai/2021, do retorno às aulas presenciais em ago/2021, do surgimento da ômicron em dez/2021 e do início da vacinação em crianças em fev/2022.
ObjetivoAnalisar a tendência e o perfil clínico e epidemiológico dos casos de Covid-19 registrados em Botucatu-SP em crianças e adolescentes, no período de março de 2020 a março de 2022.
MétodoTrata-se de estudo descritivo a partir dos dados de vigilância epidemiológica do município (E-sus, SIVEP-gripe e Vacivida), utilizando Modelo de Regressão de Poisson, Teste T e Gamma. Foram investigadas informações clínicas e gravidade da doença, para casos suspeitos de SARS-CoV-2 em menores de 18 anos (população estimada: 34.000 habitantes), e internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
ResultadosDe 28129 casos suspeitos de infecção por SARS-CoV-2, 7204 (25,6%) foram confirmados. Cerca de 80% desta população era composta por não vacinados. Sintomatologia esteve presente em 83% dos casos de Covid-19 e maior prevalência foi observada entre dez/2021 a fev/2022. Casos de internação por Covid-19 foram também mais evidentes em jan-fev/2022, e SRAG por outras causas, ocorreu no período anterior, de ago/2021 a jan/2022. Entre os 853 casos notificados de SRAG, 31 (3,6%) eram de Covid-19, acometendo principalmente as crianças de 0-10 anos (83,9%). Em hospitalizados por Covid-19: 38,7% apresentavam comorbidades e 26% necessitaram de UTI (vs 9% SRAG não-Covid-19, p = 0,002); houve maior tempo de internação (7,8 dias vs 5,0 dias, p < 0,001) e a taxa de óbito foi de 3,2% (vs 0,9% SRAG não Covid-19, p = 0,01).
ConclusãoApesar da imunidade de rebanho possivelmente refletir em diminuição de casos de Covid-19 em crianças, o retorno às aulas aumentou substancialmente casos de SRAG não Covid, e a ômicron evidentemente contribuiu no maior número de casos de SRAG por Covid-19 nessa população. Portanto, há necessidade de políticas públicas que oportunizem medidas de restrição e diagnóstico precoce de Covid-19, especialmente no ambiente escolar, local de potencial impacto na cadeia de transmissão e que pode impulsionar surtos desta e de outras doenças.