A mensuração dos impactos da pandemia de covid-19 nas taxas de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) e no perfil de resistência dos germes hospitalares é um desafio atual. O uso indiscriminado de antimicrobianos, a gravidade dos pacientes internados e a sobrecarga dos serviços de saúde podem aumentar a incidência das infecções nosocomiais causadas por bactérias multidroga resistentes (MDR).
ObjetivoAvaliar as taxas de infecção de corrente sanguínea (ICS) do período pré-pandêmico (01/01/2018-29/02/2020) e do período pandêmico (01/03/2020-31/08/2021) em um hospital de ensino, identificar os germes responsáveis e comparar as densidades de incidência.
MétodoTodas as hemoculturas positivas para bactérias MDR (VRE, KPC, MRSA, A. baumannii resistente a carbapenêmicos, P. aeruginosa resistente a carbapenêmicos) no período estudado foram identificadas e foram calculadas as densidades de incidência de ICS. As análises estatísticas foram realizadas através do software Epi Info (CDC).
ResultadosIdentificamos um aumento da densidade de incidência de ICS no período pandêmico, se comparado ao período pré-pandêmico (0.70 × 0.48, OR 1.43 [1.14-1.79 p < 0.001]). Com relação aos germes estudados, houve aumento de densidade de incidência de ICS por bactérias produtoras de carbapenemase no período pandêmico (0.95 × 2.73, OR 2.87 [1.84-4.54 p < 0.001]), mas não houve variação estatisticamente significativa para nenhum outro germe estudado.
ConclusãoO aumento global observado das taxas de infecção de corrente sanguínea durante a pandemia pode ser entendido como um reflexo do aumento do número de pacientes graves, que utilizam dispositivos invasivos, em um cenário de superlotação dos serviços em saúde. O aumento na densidade de incidência de ICS por KPC pode estar relacionado ao uso indiscriminado de antimicrobianos, principalmente no contexto de tratamentos empíricos de pneumonias bacterianas presumidas em leitos de terapia intensiva, especialmente com carbapenêmicos.