XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA Tuberculose (TB) e a Hanseníase são causadas por micobactérias, Mycobacterium tuberculosis e Mycobacterium leprae, respectivamente. A forma peritoneal da TB é rara, ocorre mais comumente pela disseminação hematogênica a partir de um foco pulmonar primário e suas manifestações clínicas mais comuns são ascite, dor abdominal e febre que persiste por semanas a meses. Este relato tem por objetivo descrever um caso de coinfecção de Tuberculose Peritoneal e Hanseníase em escolar.
Relato de casoCriança do sexo feminino, 9 anos, contato de Tuberculose (pai) e Hanseníase (bisavó, avó e mãe), previamente hígida, com quadro de tosse, febre, diarreia e aumento do volume abdominal há 25 dias. Internada na cidade de origem, onde identificados derrame pleural, consolidação em pulmão direito e ascite volumosa, com toracocentese negativa para empiema. Após 8 dias, encaminhada para este serviço de referência, em regular estado geral, afebril, com tosse persistente e abdômen globoso. Em nova toracocentese, líquido revelou ADA elevado. Ultrassonografia abdominal confirmou ascite volumosa associada a espessamento e realce peritoneal difuso junto ao grande omento formando volumosa massa com espessura de 2,2 cm e extensão de 24,5 cm; biópsia demonstrou processo inflamatório crônico granulomatoso, focos de necrose central e coloração para BAAR negativa, sendo presumido diagnóstico de TB peritoneal. Apresentava espessamento de nervo ulnar esquerdo e dor à percussão do mediano direito; diante dos dados epidemiológicos, confirmou-se diagnóstico de Hanseníase. Iniciado tratamento com Rifampicina, Isoniazida e Pirazinamida, associado à Dapsona e Clofazimina. Apresentou melhora clínica, com alta hospitalar no 5° dia do tratamento. Segue em acompanhamento ambulatorial, com regressão da massa abdominal, da ascite e da neurite do nervo mediano.
DiscussãoA presença de granulomas caseosos à histopatologia em associação com história epidemiológica e clínica permitiu presumir o diagnóstico de TB peritoneal, sendo que já durante a primeira semana do tratamento foi possível observar melhora clínica, com redução da ascite e da massa abdominal. A resposta ao tratamento da Hanseníase também foi satisfatória, com regressão dos sinais clínicos. O diagnóstico precoce somado ao tratamento adequado evitaram a evolução das doenças e assertivamente possibilitaram melhora clinica sem a ocorrência de outras complicações.