XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA hanseníase (MH) é doença infecciosa crônica envolvendo nervos e pele e o curso clínico pode ser complicado por episódios imunoinflamatórios chamados reações, que podem ser nas formas de Reação Reversa (RR), Eritema Nodoso Hansênico (ENH) ou neurite. O aumento de citocinas pró-inflamatórias que ocorre amplifica o comprometimento sistêmico e o dano nos nervos periféricos, podendo piorar incapacidades físicas e produzir sequelas. Já foi reportado que pacientes com COVID-19 apresentam tempestade de citocinas e alterações imunes. Os efeitos da COVID-19 nos indivíduos acometidos por MH ainda são pouco conhecidos, mas há expectativa de piora ou aumento da frequência das reações como consequências da associação das infecções. Portanto, o objetivo é avaliar o impacto da pandemia de SARS-CoV2 sobre a frequência e características das reações em pessoas com MH.
MétodosEstudo primário observacional quantitativo analítico longitudinal desenvolvido no Ambulatório Souza Araújo, centro de referência em hanseníase no Rio de Janeiro, após aprovação pelo sistema CEP/Conep (CAAE. 52863621.9.0000.5248). Os dados foram coletados a partir dos prontuários de pacientes registrados com hanseníase entre 2019 a 2020 diagnosticados com formas clínicas borderline ou lepromatosa (LL). Foi gerado banco de dados em RedCap e realizado análises estatísticas descritivas e bivariadas no software R e Jamovi, considerando intervalo de confiança de 95%.
Resultados preliminaresDos 81 prontuários revisados, foram excluídos 10 por serem casos de abandono do tratamento (4), recidiva (5) e 1 óbito. Os 71 indivíduos eram em sua maioria do sexo masculino, pardos (59% e 61%, respectivamente), com idade entre 13-82 anos. Trinta (42%) casos foram diagnosticados com forma LL, 34 (48%) algum grau de incapacidade física e 16 (23%) com baciloscopia = 0. Dos 43 (61%) pacientes que tiveram reação, em 36 (84%) foi crônica e 25 (58%) tiveram manifestações sistêmicas. Dos 57 casos com informação sobre COVID-19, 27 (51%) casos tiveram a doença, dos quais 20 (74%) tiveram reação. Um único paciente, com forma LL e IB = 4,50, teve internação na UTI por COVID-19 e não apresentou reação. Não foi observada associação entre ter tido COVID-19 e reação (0,297), número de episódios (0,639), cronicidade da primeira reação (0.791), piora da reação (0,902), nem o tipo de reação (0.139). Não foi observado efeito do adoecimento por COVID-19 sobre as reações hansênicas no grupo de pacientes analisados.