XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoNa coinfecção HIV e Mycobacterium leprae, a compreensão da interação entre os parasitas e o hospedeiro possui grandes lacunas de conhecimento. Aparentemente o vírus não altera profundamente a história natural da Hanseníase em indivíduos coinfectados. Por outro lado, sabe-se que nestes pacientes as reações hansênicas e neurite são mais frequentes, provavelmente por desregulação do sistema imune e por efeito neuropático do HIV, respectivamente. Dados de literatura apontam para aumento de reação tipo 1 quando em terapia antirretroviral (TARV). Aqui relata-se dois casos de coinfecção HIV-Hanseníase em pacientes com HIV fase AIDS e Hanseníase Virchowiana(HV) com reação hansênica do tipo 2.
MétodosSérie de casos de pacientes com Hanseníase Virchowiana, reação hansênica do tipo 2 em pacientes com HIV fase AIDS.
ResultadosCaso 1: Mulher trans, 31 anos, HIV desde 2018, em abandono de tratamento. Admitida com contagem de linfócitos CD4(LTCD4) 199 céls/mm3 e carga viral (CV) de 52 cópias/mL. Pápulas e placas acastanhadas infiltradas, difusamente distribuídas, com lesões exuberantes na região das mamas, supralabiais e hélice. Apresentava também, nos membros inferiores, vesículas e nódulos eritematosos, com áreas ulceradas e necróticas. Biópsia de pele evidenciou Hanseníase multibacilar com reação hansênica tipo 2 e eritema nodoso necrotizante. Iniciados rifampicina, clofazimina, dapsona, talidomida e prednisona. Reiniciada TARV com TDF/3TC/DTG, com melhora clínica. Caso 2: Mulher cis, 36 anos, HIV desde 2004 e com diagnóstico de HV em 2014. Após um mês de tratamento, relatava aparecimento de nódulos necróticos. Apresentava contagem de LTCD4 170 céls/mm3 e CV indetectável com 3TC/TDF/EFZ. Ademais, em uso de prednisona 1 mg/kg/dia. Apresentava placas infiltradas e nódulos necróticos em membros, tronco e glúteos, e espessamento bilateral do nervo ulnar, mão direita em garra e anestesia distal de extremidades. Talidomida foi associada ao tratamento. Após 12 meses de tratamento para HV, reduziu-se gradualmente talidomida e prednisona por 6 meses, com piora clínica. Feita nova biópsia de pele, sugestiva de reação tipo 2 e eritema nodoso, sendo reiniciado tratamento para HV.
ConclusãoA coinfecção HIV/hanseníase é pouco estudada em suas manifestações e na interação entre os microrganismos. Como doença negligenciada a suspeição da hanseníase é baixa levando a atrasos de diagnóstico e de tratamento, levando a quadros clínicos de maior gravidade.