XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA ingestão acidental de corpo estranho é um problema clínico comum nos serviços de atendimento de emergência. Aproximadamente, 20% evoluem com alguma intercorrência, 2% precisam ser retirados cirurgicamente e apenas 1% dos casos cursa com perfuração em algum ponto do trato gastrointestinal, gerando complicações, como formação de abscesso hepático, sangramento, obstrução e choque séptico. O objetivo deste trabalho foi descrever um caso de perfuração gástrica por corpo estranho alimentar e suas repercussões. Paciente sexo masculino, 33 anos, brasileiro, branco, previamente hígido, obeso, compareceu ao hospital com história de epigastralgia, náusea e febre, há 2 dias. Negou etilismo, tabagismo, cirurgias prévias e trauma. Na ultrassonografia abdominal, nenhum achado foi encontrado, sendo o paciente medicado e recebido alta hospitalar com orientações. Após cinco dias, retornou com queixa de piora da dor abdominal e febre, associada a anorexia e perda ponderal. Ao exame físico apresentava-se febril, taquicárdico, taquidispneico, hipocorado, ictérico, acianótico, sudoreico, má perfusão periférica, abdome globoso, rígido, com sinal de defesa, ruídos hidroaéreos diminuídos à ausculta, com sinais de peritonite, caracterizando um provável quadro de choque séptico, de foco abdominal. Ao realizar a tomografia computadorizada abdominal, observou-se coleções fluidas no lobo esquerdo hepático, perihepática e periesplênica, destacando-se estrutura linear calcificada, na margem inferior da coleção intra-hepática, podendo representar material ósseo ingerido que perfurou o estômago, com posterior bloqueio e coleções, possivelmente uma espícula de frango, já que paciente negou ingestão de peixe. O paciente foi submetido a uma laparotomia exploratória para a remoção do corpo estranho e drenagem da secreção, além de receber terapia antibiótica perioperatória, para o tratamento do choque séptico. Ao final do procedimento, colocou-se um dreno de Penrose visando manter a drenagem da secreção e incluiu-se dupla antibioticoterapia na prescrição, a fim de manejar o quadro séptico. O paciente teve um longo período de recuperação devido à infecção séptica e à presença de abscesso peri-hepático. A alta hospitalar só ocorreu após 23 dias, quando houve resolução da sepse e melhora da ferida operatória. Diante do relato, enfatiza-se a importância da investigação precoce e completa dos sintomas dos pacientes, com rápida intervenção, almejando minimizar os riscos de complicações graves.