Data: 19/10/2018 ‐ Sala: 4 ‐ Horário: 16:20‐16:30 ‐ Forma de Apresentação: Apresentação oral
Introdução: A mucormicose é uma doença invasiva, rapidamente progressiva, caracterizada pela ocorrência de necrose tecidual e trombose resultantes da invasão da corrente sanguínea pelos fungos Mucorales.
Objetivo: Descrever os casos de mucormicose no Hospital das Clínicas da FMUSP diagnosticados de 1996 a 2017.
Metodologia: Foi feita análise retrospectiva dos casos cultura positiva para Mucorales (Divisão de Laboratório Central), ou com exame anatomopatológico (Laboratório de Patologia) sugestivo de mucormicose entre janeiro de 1996 e dezembro de 2017. Os casos foram classificados como possíveis, prováveis ou provados, de acordo com a classificação de infecções fúngicas invasivas da EORTC/MSG. Fatores de risco, apresentações clínicas, agentes identificados (micromorfologia e/ou sequenciamento da região ITS do DNA ribossomal), tratamento e desfecho após 90 dias do diagnóstico de casos prováveis e provados foram compilados e analisados.
Resultado: Foram classificados 28 casos como provados (n=24) ou prováveis (n=4) segundo a classificação EORTC/MSG. A idade dos pacientes variou de 6m‐82a, apenas cinco casos em mulheres (18%). Onze pacientes tinham diabetes mellitus (40%), sete doenças onco‐hematológicas (25%, cinco transplantados alogênicos de medula óssea), cinco transplantados de órgãos sólidos (rim=2, fígado=2, pulmões=1). Quanto ao sítio de infecção, o acometimento dos seios da face e/ou órbita e/ou cérebro aconteceu em 18 casos (64%), com três casos de infecção da pele e partes moles (n=11%), dois pulmonares (n=7%), dois gastrointestinais (n=7%), (n=7%), um de fungemia (n=4%), um disseminado (n=4%). Em 15 casos (55%) houve isolamento do fungo em cultura, Rhizopus sp foi o agente mais encontrado (n=10, três sequenciados, um R. arrhizus, dois R. microsporus), seguido por Mucor sp. (n=4, três sequenciados, trêsM. circinelloides) e Rhizomucor sp. (n=1). Antifúngicos foram usados por 22 (85%) dos 26 com dados de evolução e tratamento disponíveis. Fizeram uso de formulações de anfotericina B em monoterapia (n=15) ou terapia combinada com equinocandina (n=6) ou posaconazol (n=1). Mortalidade foi de 54%.
Discussão/conclusão: Esta é a maior casuística no país de casos de mucormicose. A identificação molecular mostrou que M. circinelloides e R. microsporus podem ser emergentes no país, apesar de R. arrhizus ser a espécie mais prevalente. Diabetes com mau controle glicêmico se constituiu o principal fator de risco nesta casuística. Elevada mortalidade é preocupante, apesar de tratamento adequado.