Manifestações neurológicas causadas por SARS-CoV-2 foram relatadas em uma variedade de síndromes e sintomas, como meningoencefalite, mielite e encefalomielite aguda (ADEM) durante a pandemia de covid-19. No início de 2022, o Brasil experimentou um surto de Influenza simultaneamente à terceira onda de covid-19.
ObjetivoRelatar um caso de meningoencefalite causada por SARS-CoV-2 associado a infecção respiratória por Influenza A em um hospital terciário em doenças infecciosas, em Fortaleza, Ceará, Brasil.
MétodoTrata-se de um estudo de relato de caso realizado através da revisão de prontuário.
ResultadosPaciente do sexo masculino, 31 anos, sem comorbidades, deu entrada na emergência em janeiro/22, com história prévia de cinco dias de coriza, febre e tosse. Dois dias após a resolução dos sintomas gripais, o paciente iniciou quadro de cefaleia, rigidez de nuca, alterações de comportamento e agressividade. Apresentava imunização para covid-19 com duas doses de vacina inativada para SARS-CoV-2. Ao exame físico, o paciente apresentava-se desorientado, e com episódio de convulsão tônico-clônica generalizada, sendo revertida com anticonvulsivantes. Foi encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por déficit sensorial e sonolência. Realizou tomografia computadorizada de crânio e radiografia de tórax que não apresentaram alterações. A análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) revelou contagem de células de 553 células/mm3 (91% de linfócitos e 8% de monócitos), glicose 60 mg/dL, proteína 61,6 mg/dL, lactato de 32 mg/dL, e bacterisocopia negativa. SARS-CoV-2 foi identificado no LCR por meio de reação em cadeia da polimerase em tempo real (qPCR), utilizando o kit Allplex™ SARS-CoV-2/FluA/FluB/RSV. Influenza A foi detectado no swab nasofaríngeo utilizando o mesmo teste do LCR. Entretanto, SARS-CoV-2 não foi detectado na amostra de swab nasofaríngeo. No 3° dia de UTI, o paciente apresentou estado de mal epiléptico e necessidade intubação orotraqueal, evoluindo com parada cardiorrespiratória súbita e óbito.
ConclusãoA circulação de vírus respiratórios simultaneamente, durante a pandemia de covid-19, propiciou uma maior possibilidade de coinfecções virais. Aqui descrevemos um caso de meningoencefalite relacionada ao SARS-CoV-2 em um paciente também infectado por Influenza A com evolução fatal. Entretanto, o impacto destas coinfecções na patogenia e evolução clínica ainda é desconhecido. Mais estudos são necessários para entender o papel das coinfecções virais na gravidade destes pacientes.