Esporotricose é uma micose hiperendêmica no Rio de Janeiro cuja forma clínica mais comum é a linfocutânea. Formas extra-cutâneas, como óssea, ocular, meníngea e pulmonar podem ocorrer mais raramente. A forma pulmonar primária ocorre pela inalação de conídios do ambiente e a secundária por disseminação hematogênica de foco extra-pulmonar.
Descrição do casoHomem, 60 anos, pedreiro aposentado, tabagista, etilista (50 UI de álcool/semana), morador da área metropolitana do RJ, iniciou tosse produtiva, febre e perda de peso 4 semanas antes do primeiro atendimento. Tomografia de tórax (TCT) com consolidação e árvore em brotamento no ápice direito, anti-HIV não reagente e múltiplos escarros com baciloscopia, teste rápido molecular e cultura negativos para tuberculose (TB). Devido a piora do sintomas e surgimento de derrame pleural esquerdo após 15 meses de investigação, foi iniciado tratamento empírico para TB. Sem melhora após 8 semanas de tratamento, foi submetido a broncoscopia com isolamento de Sporothix spp. e ausência de micobactérias no lavado broncoalveolar (LBA). Nova TCT com cavitação apical direita e múltiplos nódulos. O paciente não apresentou lesões cutâneas durante acompanhamento e possuía um gato saudável. Na ocasião, também houve isolamento de Sporothrix spp. no escarro espontâneo. Com o diagnóstico de Esporotricose Pulmonar Primária, foi iniciado tratamento com Itraconazol 400 mg por dia, mas paciente perdeu seguimento. Após 6 meses, retorna desnutrido, com dispneia, hipoxemia e sinais de sepse. Nova TCT mostrou aumento da cavitação já existente prévia e surgimento de novas cavitações em ambos os pulmões associadas a focos de consolidação. Instituído tratamento com Anfotericina B Complexo Lipídico associado a Piperacilina-Tazobactam e Azitromicina. Após 9 dias de tratamento, paciente evoluiu com insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica e choque refratário, evoluindo para óbito.
ComentáriosEsporotricose Pulmonar Primária deve ser considerado um diagnóstico diferencial de doenças granulomatosas e cavitárias pulmonares, especialmente em regiões de alta endemicidade, mesmo em pacientes sem imunossupressão aparente. Neste caso, houve isolamento do fungo no escarro espontâneo e no LBA do paciente, portanto semear espécimes clínicos em meios específicos para fungos é importante em casos suspeitos de TB com microbiologia negativa. A doença é de difícil tratamento e tem potencial de morbimortalidade considerável.