A pandemia da COVID-19 trouxe desafios para enfrentamento do vírus e de outros agravos. No Brasil, há tendência para aumento dos casos de dengue em meses chuvosos, principalmente de março a abril. De acordo com o Boletim Epidemiológico n° 51, do Ministério da Saúde (MS), em 2020, houve queda na distribuição dos casos prováveis de dengue, a partir da 12° semana epidemiológica (SE), divergindo do comportamento observado até 2019, mas coincidindo com o período de decreto da pandemia. Sabendo-se da possibilidade de sobreposição entre os agravos, buscou-se caracterizar a distribuição epidemiológica dos internamentos por dengue nas capitais do país.
MétodosTrata-se de um estudo transversal, realizado nas capitais brasileiras com dados extraídos dos meses de março-maio entre 2019 a 2021, com as notificações de tratamento para dengue clássica, a partir de dados extraídos do Sistema de Internações Hospitalares (SIH-SUS). As variáveis usadas foram: capital de residência e ano/mês de internamento. Os dados foram tabulados no Excel 2019, onde foram calculadas as variações percentuais no período (VPP).
ResultadosForam extraídos dados de 20 capitais. Foi observado queda nos internamentos por dengue nos anos de 2020 (-30%) e 2021 (-60%), nos meses estudados em relação a 2019. Sete capitais demonstraram o mesmo comportamento. Maceió e Porto Alegre apresentaram a maior queda em 2020: -100% e -97%, respectivamente. Outras cinco mostraram aumento no número de internações em 2020, seguido de queda em 2021. Fortaleza foi a única que apresentou aumentos consecutivos, +177% (2020) e +300% (2021). Campo Grande, Goiânia e Brasília em 2020 apresentaram variações inferiores a 0,01%. Em relação a 2019, todas as capitais estudadas apresentaram decréscimo de registros de internamento.
ConclusõesEm conformidade com a redução da notificação de casos suspeitos de dengue, houve queda nos internamentos por dengue na maioria das capitais estudadas. Considerando-se que a distribuição dos internamentos foi distinta entre as capitais e que algumas, como Fortaleza, apresentaram incremento de casos, pode ter ocorrido sobreposição das notificações dos casos suspeitos de dengue durante a pandemia, subnotificação e atraso no processamento de dados. O contexto pandêmico também pode ter gerado receio na busca por atendimento. Estudos posteriores são necessários para o estabelecimento de correlações.