XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoAinda que existam métodos de prevenção amplamente reconhecidos, a leishmaniose visceral (LV) continua sendo uma doença tropical negligenciada e um problema de saúde pública, com maior ênfase em países socialmente mais vulneráveis. Dessa forma, a leishmaniose visceral é considerada endêmica em 83 países, e possui a letalidade como um indicador preocupante, sobretudo no Brasil. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi caracterizar os óbitos por leishmaniose visceral no Brasil entre os anos 2012-2019.
MétodosTrata-se de um estudo de coorte retrospectiva, que incluiu todos os casos de leishmaniose visceral notificados no Brasil entre 2012-2019. Os dados de morbimortalidade foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Os dados populacionais foram extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considerando o censo nacional de 2010. A caracterização da população foi realizada por meio de estatística descritiva, na forma de frequências absolutas e relativas, considerando as variáveis de região de residência, tipo de caso, sexo, escolaridade, faixa etária, cor de pele, zona de residência e coinfecção entre a leishmaniose visceral e o vírus da imunodeficiência humana (LV-HIV).
ResultadosForam registrados 28.602 casos de leishmaniose visceral no Brasil entre os anos de 2012 e 2019, dos quais 2.787 (9,74%) evoluíram para o óbito. Com relação aos desfechos fatais, as características predominantes foram o sexo masculino (1.913; 68,64%), idade ≥ 40 anos (1.501; 53,86%), cor de pele não branca (2.212; 79,37%), provenientes da região Nordeste (1.487; 53,35%), residentes na zona urbana (2.074; 74,42%), com escolaridade < 12 anos (1.178; 42,27%). Os óbitos foram mais prevalentes entre os casos novos (2.542; 91,21%) quando comparados aos de recidiva da doença (136; 4,88%). A coinfecção entre a leishmaniose visceral e o vírus da imunodeficiência humana (LV-HIV) esteve presente entre 16,68% dos óbitos (n = 465) por leishmaniose visceral.
ConclusãoOs achados do estudo permitem identificar os aspectos mais prevalentes entre os casos fatais de leishmaniose visceral no Brasil no período pré-pandemia de covid-19. As características descritas possuem relação com as iniquidades sociais em saúde que precisam ser enfrentadas para que seja possível o controle ou a erradicação do agravo no território brasileiro.