A vancomicina representa uma das principais ou, senão a primeira opção terapêutica para o tratamento de infecções causadas por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (SARM) em diversos serviços de saúde. Entretanto, sua utilização na prática clínica é questionada diante de concentrações inibitórias mínimas maiores que 1.0 mg/L (CIM-V), com evidências de falência no tratamento e aumento de mortalidade reportadas para estes isolados considerados sensíveis à vancomicina.
ObjetivoO objetivo deste estudo foi avaliar pacientes com bacteremia por SARM e comparar desfecho clínico entre pacientes com CIM-V > 1 mg/L e ≤ 1 mg/L além de conhecer a epidemiologia das infecções de corrente sanguínea por SARM no Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) - Hospital São Paulo (HSP) durante o período de 2011 a 2015. Também foi avaliada a terapêutica empírica institucional, o tempo da introdução do glicopeptídeo para tratamento e o impacto no desfecho clínico das bacteremias por SARM.
MétodoFoi realizado um estudo retrospectivo, com análise de dados de prontuário médico de todos os pacientes que tiveram diagnóstico de infecção da corrente sanguínea por SARM no Hospital São Paulo no período de 2011 a 2015.
ResultadosForam avaliados 238 pacientes com bacteremia por SARM no período de cinco anos. A mortalidade geral entre os pacientes com bacteremia por SARM foi de 28,6% em 28 dias. 60 isolados (25,2%) apresentaram CIM-V > 1 mg/L. Entre os pacientes que apresentaram bacteremia por SARM com CIM-V > 1 mg/L, a mortalidade em 28 dias foi de 21,7% (13/60 pacientes) e, entre os pacientes com bacteremia por SARM com CIM-V ≤ 1 mg/L, a mortalidade foi de 30,9% (55/178), p = 0.171. Em nossa coorte, as variáveis associadas com mortalidade em 28 dias foram a idade, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), escore de bacteremia de Pitt no momento da identificação da infecção por SARM, uso de cefalosporinas na terapia empírica e terapia final inadequada.
ConclusãoEstudos demonstraram falha de tratamento entre as infecções por SARM e CIM-V > 1 mg/L, apesar dos isolados serem sensíveis à vancomicina. A análise dos valores da CIM-V isoladamente pode não orientar mudança da prática clínica no tratamento de infecções por SARM e que outras variáveis podem ser utilizadas para estabelecer o prognóstico dessas infecções em relação a mortalidade. A CIM-V por si, tem valores muito variáveis a depender do método utilizado em sua obtenção.