A identificação laboratorial oportuna é uma etapa essencial para o diagnóstico e tratamento precoces, e para interromper cadeias de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (IST). Alterações no padrão de mobilidade humana e realocações de recursos diagnósticos e terapêuticos em decorrência pandemia da COVID-19 vêm afetando diversos aspectos do cuidado a outras doenças, tais como as sífilis. A redução de testagens pode associar-se a testagem direcionada a indivíduos com maior risco de infecção, resultando em aumento da porcentagem de exames positivos.
ObjetivoDescrever o efeito da pandemia da COVID-19 sobre o número de testes solicitados para sífilis, e sobre a porcentagem de testes positivos. Correlacionar o número de testes solicitados e porcentagem de positivos em cada quinzena no período de janeiro de 2019 a outubro de 2021 com mensurações da mobilidade populacional utilizando a ferramenta Google Mobility.
MétodoNesse estudo de série temporal, extraímos do banco de dados do laboratório do Hospital Albert Einstein dados sobre a frequência quinzenal de testes diagnósticos para sífilis (quimiluminescência), bem como seus resultados, descrevendo as porcentagens de testes positivos, no período de janeiro de 2019 a outubro de 2021. Análise foi realizada por métodos gráficos e testes de correlação de Spearman.
Resultados41773 testes de quimiluminescência foram incluídos na análise. A avaliação gráfica revelou uma queda acentuada no número de testes solicitados no período inicial da pandemia (março-maio de 2020), e um aumento moderado entre maio e setembro de 2021, coincidentes respectivamente com a redução e retomada da mobilidade populacional. Conforme esperado, a redução da testagem acompanhou-se de aumento da porcentagem de exames positivos, com uma positividade média de 8,3% no período pré-pandemia para 13,4% no período de março-maio 2020. Observamos correlação estatisticamente significante entre testagem e mobilidade (Rho = 0,594, p < 0,0001), e correlação inversa entre testagem e porcentagem de exames positivos (Rho = -0,517, p = 0,0005).
ConclusãoAlterações da mobilidade populacional e alocação de recursos decorrentes da pandemia da COVID-19 ou outros eventos excepcionais podem ter impacto negativo sobre o cuidado a outras doenças, tais como a sífilis. Estratégias para ampliar a capacidade de testagem, incluindo o uso de autotestes, podem favorecer o acesso ao diagnóstico e tratamento da sífilis e outras IST.