Em dezembro de 2019, o Ministério da Saúde autorizou a simplificação da terapia antirretroviral (TARV) para terapia dupla (TD) com lamivudina (3TC) + dolutegravir (DTG) ou darunavir/ritonavir (DRV/r), desde que respeitando os critérios de boa adesão, carga viral (CV) indetectável nos últimos dois exames, estabilidade clínica, ausência de coinfecção com hepatite B ou tuberculose e ausência de falha prévia a alguma das medicações, conforme genotipagem. Por ora, a TD ainda é contraindicada para gestantes, menores de 18 anos e para início de tratamento. O objetivo deste trabalho é avaliar e discutir a implantação da TD em pacientes ambulatoriais em um hospital público do Rio de Janeiro, seus riscos, acertos e resultados.
MétodosForam analisados os prontuários das pessoas vivendo com HIV/Aids em acompanhamento ambulatorial e que foram submetidas, entre fevereiro de 2020 e julho de 2021, à simplificação da TARV para 3TC+DTG. Os pacientes foram agrupados por gênero, idade, contagem de células CD4 no momento da troca, passado de doença definidora de aids e presença de comorbidades. Além disso, foram avaliados os níveis de creatinina sérica pré e pós troca e a CV após três meses.
ResultadosDos 24 pacientes em TD, 12 (50%) eram do sexo feminino, sendo a mediana de idade de 52,5 anos (variou de 36 a 69 anos). O tempo médio de uso da TARV foi de 14 anos (variou de 2 a 26 anos). No momento da troca, dois pacientes (8,3%) possuíam contagem de CD4 menor que 200 células/mm3; um (4,1%), entre 200 e 350, e 21 (87,5%) acima de 350. Sobre a história pregressa, oito pacientes (33,3%) já haviam apresentado doença definidora de aids e 19 (79,1%) apresentavam alguma comorbidade no momento da troca (hipertensão arterial em 33,3% e diabetes mellitus tipo 2 em 33,3%). Aumento da creatinina sérica foi observado em 14 pacientes (58,3%), mas em apenas um houve aumento acima do limite da normalidade. Na avaliação da CV após três meses, três pacientes (12,5%) não repetiram o exame e 21 (87,5 %) mantiveram CV indetectável (um desses pacientes apresentou 165 cópias/mL em exame realizado no 1º mês da troca, sendo indetectável no 2º e 6º meses subsequentes).
ConclusãoNossos resultados corroboram, na vida real, que a terapia dupla é segura e apresenta eficácia equivalente às terapias consagradas. Espera-se que em breve mais pacientes possam se beneficiar da redução de medicações e consequentemente minimizar seus efeitos adversos.