A COVID-19 é uma doença grave que pode necessitar de internação em UTI e por isso, os pacientes possuem maior risco de desenvolver infecções relacionadas à assistência à saúde. Existem poucos dados no Brasil sobre a epidemiologia das ICS em pacientes com COVID-19 internados em UTI.

Descrever a epidemiologia, a microbiologia e o desfecho clínico dos pacientes com COVID-19 que desenvolveram ICS internados nas UTIs.

Estudo retrospectivo, observacional, realizado no período de Mar/20-Jul/21. Foram incluídos pacientes adultos, que apresentaram ICS (critérios ANVISA) e diagnóstico confirmado de COVID-19. Analisamos todos os casos de ICS notificados pela CCIH através de busca de prontuários para análise de: sexo, idade, data internação, data da 1ª hemocultura positiva, realização de hemodiálise, micro-organismos identificados, perfil de resistência, mortalidade em 14 dias, cálculo do Escore de Bacteremia de Pitt (PBS) e realizada análise uni e multivariada para mortalidade.

Analisamos 174 episódios de ICS, sendo 92 (52,9%) do sexo masculino com média de idade de 64,3 anos. O tempo médio para positividade da hemocultura foi de 13 dias. O PBS variou de 0 a 14 pontos, com média de 7 e mediana de 8 pontos. No total, 158/174 (90,8%) dos casos apresentavam PBS ≥ 4 com pontuação do estado mental ajustada com escala de RASS e 125/174 (71,8%) dos casos apresentavam PBS ≥ 4 sem a pontuação do estado mental. Hemodiálise esteve presente em 89/174 (51,1%) dos casos. A distribuição dos patógenos demonstrou 21% de espécies de Pseudomonas sp (63% de R a carbapenêmico), 16% de Enterococcus sp (7,1% de R a vancomicina), 16% de Candida sp e 16% de Klebsiella pneumoniae (92% de R a carbapenêmico). A mortalidade em 14 dias foi de 49,4% e o PBS ≥ 4 foi o único fator de risco independente para a mortalidade.

As ICS ocorreram em pacientes masculinos, idosos, graves e submetidos a hemodiálise. Os agentes etiológicos isolados foram Pseudomonas sp, Enterococcus sp, Candida sp e Klebsiella pneumoniae. A mortalidade em 14 dias foi alta e o PBS ≥ 4 pode ajudar a estimar a mortalidade. O encontro destes patógenos reflete uma mudança na epidemiologia das ICS em UTIs com a COVID-19, pois houve um aumento de patógenos do trato gastrointestinal. Conhecer a epidemiologia local das infecções na COVID-19, faz-se necessário e urgente para guiar a terapia empírica, minimizar os riscos de desenvolvimento de infecções secundárias e melhorar as práticas de controle de infecção.