As infecções respiratórias são responsáveis pela maior parte das internações hospitalares de crianças de 1 a 4 anos no Brasil. Diante da eclosão da pandemia causada pelo vírus da síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-Cov-2), é importante conhecer o impacto dessa doença nas crianças. O objetivo do estudo foi analisar a ocorrência de Covid-19 em crianças de 0 a 9 anos de idade do Estado do Rio Grande do Sul, bem como sua associação com comorbidades e os desfechos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e óbito.
MetodologiaEstudo transversal, realizado no período de março de 2020 até abril de 2021, com dados oriundos da base de domínio público do Rio Grande do Sul. Foram incluídas crianças de 0 a 9 anos de idades infectada por Covid-19 e consideradas as seguintes variáveis: sintomas, comorbidades e desfechos de SRAG e óbito. A análise dos resultados foi com parâmetros de estatística descritiva e inferencial.
ResultadosNo Rio Grande do Sul, durante o período estudado, 35.131 crianças tiveram o diagnóstico de Covid-19 confirmado, sendo que as comorbidades (pelo menos uma) estavam presentes em 1.323 (3,8%) dos casos, menos frequente que na população adulta. Quanto a frequência das comorbidades, 358 (2,7%) tinham uma comorbidade, 37 (0,3%) duas comorbidades e seis (0,02%) crianças tinham de três a quatro comorbidades associadas. As doenças respiratórias crônicas foram relatadas em 830 (56,2%) casos confirmados, as doenças cardíacas em 181 (12,3%) e a alteração na imunidade em 129 (8,7%) dos casos. Ao comparar os desfechos graves de SRAG entre as crianças com e sem comorbidades, encontrou-se respectivamente 197 (14,9%) versus 253 (0,7%) casos de SRAG com razão de prevalência: RP = 1,17 (IC 95%: 1,14-1,93) e 11 (0,8%) versus 6 (0,02%) casos de óbito com RP = 1,01 (IC95%: 1,00-1,02). Os dados disponíveis na literatura sobre a gravidade da COVID-19 em crianças com comorbidades são escassos, limitando a identificação de condições de maior risco de complicações e mortalidade.
ConclusãoNo Rio Grande do Sul, as crianças raramente experimentaram as formas graves da Covid-19, porém, quando infectadas e portadoras de comorbidades, tem pior prognóstico quanto aos desfechos de SRAG e óbito. Essa análise reitera a necessidade da vigilância permanente do cuidado integral às crianças, melhorando indicadores de morbidade e diminuindo a mortalidade infantil.