Data: 18/10/2018 ‐ Sala: 2 ‐ Horário: 16:10‐16:20 ‐ Forma de Apresentação: Apresentação oral
Introdução: A febre amarela (FA) é uma doença hemorrágica viral aguda causada por um arbovírus da família Flaviviridae, transmissível através da picada de vetores infectados. Recentemente, surtos da doença voltaram a ocorrer no Brasil. De janeiro de 2017 a junho de 2018, 1.003 casos confirmados de FA foram registrados em Minas Gerais, dos quais 339 morreram. Aspectos relacionados ao manejo clínico dos casos graves e que requerem cuidados intensivos são escassos. Esse hiato é ainda maior na abordagem da coagulopatia com hemotransfusão.
Objetivo: Avaliar os aspectos relacionados à hemotransfusão em pacientes com FA na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Eduardo de Menezes (HEM) em 2017 e 2018.
Metodologia: Série de casos de pacientes adultos com a FA confirmada admitidos na UTI de HEM de janeiro 2017 a junho 2018. Variáveis associadas à coagulopatia e hemotransfusões na UTI foram relacionados à ocorrência ou não de óbito na UTI, num momento inicial pela análise univariada, seguida de regressão logística (Método de Cox). O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa do HEM.
Resultado: No período do estudo, 296 pacientes com FA confirmada foram admitidos no HEM, desses 114 foram incluídos na análise do estudo. A idade média foi de 47,7 anos. A maioria era masculina (92,1%) e 70,2% eram pardos. As transfusões de sangue foram feitas em 84 (73,7%) pacientes, o plasma fresco congelado (PFC) foi o hemocomponente mais transfundido (67,5%). Na análise univariada, hemotransfusão, principalmente de PFC, foi associada à mortalidade, apesar de não ter permanecido no modelo final da análise multivariada.
Discussão/conclusão: Embora não existam dados que apoiem a correção preventiva da coagulopatia nesse contexto, a prática é quase universal. Em nosso estudo, as hemotransfusões foram uma conduta empírica, com base nas alterações de RNI. Na ausência de hemorragias clinicamente significativas, não se demonstrou que a administração profilática de PFC diminuiu o risco de hemorragia ou melhorou desfecho. O risco de sangramento significativo não é evitado, a tendência do RNI como marcador de prognóstico é alterada, além de poder aumentar pressão venosa, exacerba a chance de sangramento e hipertensão intracraniana. A mesma interpretação pode ser feita em relação à transfusão de crioprecipitado. De acordo com a literatura, hemotransfusão foi associada à mortalidade em nossa série. Esses resultados foram piores com o PFC.