XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA meninigococcemia é uma doença de alta mortalidade e muito associada a morbidades, especialmente amputações. Neste trabalho, relatamos uma sequela grave, porém raramente descrita: uma aracnoidite de cauda equina levando à paraplegia. Homem, 38 anos, previamente hígido, não vacinado para meningite, apresentou febre e mialgia, evoluindo em poucas horas para lesões purpúricas em mãos e pés e rebaixamento de nível de consciência, necessitando de intubação de orotraqueal, início de antibioticoterapia empírica com Ceftriaxona e Vancomicina e transferência para unidade intensiva de hospital público de infectologia do Rio de Janeiro. Na análise liquórica por PCR multiplex, foi isolada Neisseria meningitidis do tipo C, sendo mantido o tratamento guiado por 7 dias, com boa resposta evolutiva e posterior extubação, apesar de ainda manter feridas sequelares em pés. Após o despertar, paciente apresentou paralisia e anestesia em membros inferiores, com sensibilidade tátil e térmica mantidas, associada à perda de controle esfincteriano e bexiga neurogênica, sendo submetido à ressonância magnética que evidenciou aracnoidite adesiva em causa equina. Foram realizadas sorologias virais para HIV, hepatites e sífilis, todas negativas, além de nova punção lombar descartando nova infecção de sistema nervoso central. Não foi realizada eletroneuromiografia pela presença de lesões na perna. Optado pela realização de pulsoterapia com Metilprednisolona 1 mg/kg e posterior manutenção de Prednisona em dose 0,5 mg/kg, com discreta melhora da força em coxas, sem ganho em relação à perda de sensibilidade dolorosa. Paciente recebeu alta necessitando de uso de cadeira de rodas. A meningococcemia é classicamente descrita como uma doença muito grave, de desfechos catastróficos. A aracnoidite é uma complicação raramente associada às meningites, porém com potencial de aumento da morbimortalidade e que deve ser investigada nos casos de alterações motoras não explicadas por outras causas. É discutível também se há subpercepção desta sequela, uma vez que a doença meningocócica se apresenta muitas vezes fulminante e com tanta gravidade que o paciente evolui para óbito antes mesmo de serem percebidas as consequências. Este relato mostra-se relevante para discutir esta associação que possui pouquíssimos relatos na literatura, mas leva a piora na qualidade de vida do paciente sobrevivente.