Avaliar a segurança da anfotericina-B em diferentes faixas etárias pediátricas em busca de um “ponto de virada” em que seu uso possa representar maiores danos ao paciente.
MétodosEstudo longitudinal retrospectivo em hospital terciário infantil brasileiro. Foram incluídos registros de menores de idade que receberam pelo menos duas doses de anfotericina-B desoxicolato (D-AMB) entre janeiro de 2014 e dezembro de 2019.
ResultadosCento e vinte e sete pacientes foram estratificados conforme a idade (< 37 semanas de idade gestacional; 0 - 27 dias; 28 dias - 12 meses; 13 meses - 2 anos; 3 - 5 anos; 6 - 11 anos; 12 - 18 anos). Poucos eventos adversos relacionados à infusão durante a administração de D-AMB foram observados, porém um ponto de virada com maior frequência de aparecimento ocorreu a partir do grupo de crianças de 13 meses, com diferença estatística significativa entre neonatos e não-neonatos (p = 0,033). O teste de comparação de proporções foi utilizado para avaliar a toxicidade da D-AMB em funções orgânicas, ajustados aos valores de referência de cada faixa etária. A proporção de adequação de ureia sérica em neonatos demonstrou que menos de 60% dos pacientes estavam dentro dos níveis normais antes de receberem D-AMB. Durante o tratamento, essa proporção manteve 54% (D3), 65% (D7), 48% (D14) e 52% (final do tratamento). No entanto, o mesmo parâmetro para os não-neonatos revelou outro padrão após exposição à D-AMB, começando com 73% de adequação e, em seguida, uma sequência de diminuição chegando a 31% de adequação no D14. Nenhuma alteração considerável de creatinina sérica foi observada, embora 6,3% dos pacientes tiveram lesão renal aguda e 3,94% oligúria e/ou edema. Níveis de hemoglobina apresentaram proporção de adequação de 69% e 57% para neonatos e não-neonatos, respectivamente. Ao final do tratamento, foi possível identificar uma diferença significativa entre os dois grupos, onde os não-neonatos alcançaram um pior cenário de adequação.
ConclusãoA segurança da anfotericina-B difere entre as faixas etárias e, conforme aponta a literatura, os recém-nascidos mostram-se mais preservados durante o tratamento quando comparados a crianças mais velhas. A partir da estratificação etária foi possível identificar um impacto desfavorável da formulação convencional dos 13 meses em diante, sugerindo a faixa etária dos 13 meses aos 2 anos de idade como ponto de virada para maior chance de eventos adversos relacionados à infusão e toxicidade.