12° Congresso Paulista de Infectologia
More infoIntrodução: Anemia falciforme (AF) é uma hemoglobinopatia hereditária com susceptibilidade aumentada a infecções, sobretudo por bactérias encapsuladas. Outra complicação relevante é a ocorrência de fenômenos vaso‐oclusivos (FVO). A síndrome torácica aguda (STA), um tipo de FVO, é um dos maiores motivos de internamento e a principal causa de mortalidade. A pandemia atual do SARS‐CoV‐2 denota a importância da investigação de COVID‐19 em portadores de AF com síndrome respiratória aguda.
Objetivo: Descrição clínico‐laboratorial de pacientes portadores de AF com síndrome respiratória aguda e suspeita de COVID‐19.
Metodologia: Estudo descritivo transversal, série de casos, entre mar‐out/2020, em serviço de referência de infectologia pediátrica. Incluídos todos pacientes portadores de AF com suspeita de infecção por SARS‐COV2. A confirmação da COVID‐19 foi determinada pelo RT‐PCR.
Resultados: Avaliados 13 pacientes, 53% masculino, média de idade de 8a (intervalo: 1 a 12a). Todos apresentaram febre e fizeram uso de antibioticoterapia durante a internação hospitalar. 23% apresentaram crise álgica aguda à admissão. Todos tinham quadro clínico sugestivo de STA, destes, 61% necessitaram do uso de cateter nasal de O2. 23% dos pacientes foram transferidos para UTI pediátrica, porém nenhum deles tiveram necessidade de suporte ventilatório mecânico. Todos os pacientes encaminhados para a UTI apresentavam suas provas inflamatórias elevadas. 67% apresentaram Hb da admissão<7g/dL com necessidade de transfusão de concentrado de hemácias. Todos os que tiveram o D‐dímero solicitado na admissão apresentaram este acima do limite superior da normalidade (0,5μg/dL), com valor máximo encontrado de 10,9μg/dL. Duas pacientes apresentaram o RT‐PCR detectável para SARS‐CoV‐2. Ambas apresentaram alterações em tomografia de tórax, como consolidação em vidro fosco nos seguimentos basais dos lobos pulmonares.
Discussão/Conclusão: A taxa de complicações da AF do tipo FVO, como STA ou crise álgica aguda, foi comum na maioria dos pacientes. Todos os pacientes encaminhados para o serviço de infectologia, preenchiam critérios para STA, assim como para suspeição de COVID‐19. D‐dímero se mostrou elevado mesmo nos pacientes com o RT‐PCR não detectável. A prevalente antibioticoterapia empírica foi baseada nas etiologias bacterianas da STA. Conclui‐se que pelo quadro clínico‐laboratorial semelhante entre a STA da AF e a COVID‐19, é necessária atenção redobrada para o diagnóstico diferencial nesta população que se apresenta com sindrome respiratória aguda.