A hemocultura (HC) é o recurso laboratorial mais importante para o diagnóstico e a investigação da infecção de corrente sanguínea (ICS) e uma adequada interpretação dos resultados é fundamental para o manejo das bacteremias e o uso responsável de antimicrobianos. O objetivo deste estudo foi analisar as taxas de positividade e contaminação das HC em hospitais privados do Rio de Janeiro na era do COVID-19.
MétodosFoi realizado um estudo retrospectivo, transversal multicêntrico em 8 hospitais terciários privados do Rio de Janeiro, de Janeiro a Julho de 2021, sendo: 6 gerais, 1 maternidade, 1 cardiológico, 1 oncológica, 1 pediátrica e 3 com unidades de atendimento a pacientes com COVID-19 (420 leitos de terapia Intensiva). Os isolados positivos da HC foram identificados usando o sistema automático VITEK®2 (bioMérieux, Durham, North Carolina). Os critérios de contaminação das HC foram a presença de espécies contaminantes (Micrococcus spp., Streptococcus viridans, Propionibacterium acnes, Corynebacterium spp., Clostridium perfringens e Bacillus spp.), e no caso dos Staphylococcus coagulase-negativos (SCN) foram classificados segundo o número de frascos positivos: um foi considerado como contaminante, dois ou mais frascos positivos foram consideradas como ICSs verdadeiras.
ResultadosNo total foram seleccionadas 26.977 HC coletadas em 7.495 pacientes (3.6 HC/paciente). 24.231 HCs foram negativas (média: 89.8%;IQR:77 - 96,6%) com uma taxa média de positividade de 10,2% (IQR:3,4 - 23%). Nas HC positivas, identificou-se o patógeno causador da ICS em 2.681 amostras (média: 9,9%; IQR:2,9 - 22,9%), e muitas estiveram associadas a SCN (média: 43,7%; IQR:15,2 - 56,7%). Houve apenas 65 amostras identificadas como contaminações (média: 0,24% (IQR:0,07 - 1,69%). Observamos uma menor taxa de positividade das HCs nos hospitais com atendimento de pacientes com COVID-19 (13.8% vs 15.9%) e também uma menor taxa de contaminação (0,15% vs 0,59%). A maioria das contaminações estiveram associadas aos SCN (87,6%) e as espécies de SCN mais frequentemente encontradas foram: Staphylococcus epidermidis (48%), Staphylococcus haemolyticus (18%) e Staphylococcus capitis (9%).
ConclusãoObservamos uma taxa média de contaminação das HCs baixa (0.24%), mas também foi verificada uma taxa positividade das HC muito baixa (10.2%), e isto pode afetar o tratamento das ICSs, aumentar custos no atendimento e limitar as medidas de controle de patógenos multirresistentes.