Eikenella corrodens é uma bactéria anaeróbia facultativa gram-negativa que comumente coloniza a cavidade oral, raramente causando patologias. Entretanto, são descritos casos de endocardite e infecções dentárias, além de raros relatos mundiais de abscessos cerebral e pulmonar.

IGV, 28 anos, sexo feminino, sem antecedentes patológicos, iniciou quadro de cefaleia de forte intensidade refratária a analgésicos, fotossensibilidade e vômitos esporádicos após duas semanas de um procedimento dentário. Foi atendida no pronto-socorro devido à refratariedade da dor às medicações e piora dos sintomas, sendo submetida à tomografia computadorizada de crânio que evidenciou lesão expansiva no lobo temporal direito com acentuado edema vasogênico e desvio significativo das estruturas da linha média com herniação transtentorial descendente, sugerindo abscesso ou neoplasia. Foi abordada cirurgicamente com craniotomia e drenagem de material purulento, com envio para cultura e posterior crescimento de Eikenella corrodens. A paciente evoluiu de forma satisfatória após a drenagem neurocirúrgica e o tratamento com ceftriaxona.

O abscesso cerebral, definido como uma coleção purulenta intraparenquimatosa, corresponde a 8% das massas intracerebrais diagnosticadas em países desenvolvidos e 1-2% em países subdesenvolvidos. A etiologia do abscesso cerebral envolve uma fonte primária de infecção ou fatores predisponentes para formação de abscesso, idade, imunocompetência ou uso prévio de antibióticos. A detecção e identificação do patógeno causador é crucial para melhor seleção do regime terapêutico, visto que é uma entidade ameaçadora à vida, por vezes sendo necessárias outras ferramentas para tratamento. Existem raros casos descritos de abscesso cerebral por Eikenella corrodens.