IV Congresso Goiano de Infectologia
More infoA tuberculose (TB) extrapulmonar representa 15-20% de todos os casos da doença. A TB peritoneal é doença rara, que pode se originar da disseminação transmural de doença intestinal ou por disseminação hematogênica após infecção pulmonar primária. A sintomatologia inespecífica com presença de dor abdominal, distensão abdominal e ascite torna o diagnóstico desafiador.
Relato de casoMulher, 23 anos, G2P2, manicure, relatava exposição a ambiente prisional durante visitas a familiar e duas internações prévias para tratamento de pneumonia, sendo a última há 1 ano e meio. Deu entrada em hospital de referência para investigação de aumento progressivo de volume abdominal há 4 semanas, seguido de dor abdominal e lombar há 2 semanas, associados a náuseas. Negava febre e a perda de peso não foi quantificada. Foi identificada ascite refratária, com drenagem de mais de 4 L de líquido turvo, leucócitos 260 (88% linfomono), hemácias 960, DHL 378, pesquisas de BAAR e fungos negativas. Adenosina Deaminase 48,2 U/L. Hemograma: Hb 9,5, Ht 28%, leuco 7.570, plaquetas 509 mil, creatinina 0,7, TGP 12, TGO 23, GGT 24, FALC 69, RNI 1,35, Albumina 2,7, Bilirrubinas 0,4. Tomografias: - ascite acentuada, com realce peritoneal pelo contraste e linfonodomegalias mesentéricas e retroperitoneais; - opacidades centrolobulares, confluentes, com aspecto de "árvore em brotamento", mais evidentes no lobo médio e segmento anterior do lobo superior direito. Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) foi negativo em lavado broncoalveolar e em 3 amostras de líquido ascítico. Histopatológico de biópsia peritoneal demonstrou processo inflamatório crônico granulomatoso, com pesquisas diretas para BAAR e fungos negativas. Não foi enviado fragmento para TRM-TB. Pelo quadro clínico, radiológico e histopatológico foi assumido tratamento para tuberculose com esquema RIPE. Houve remissão da ascite no primeiro mês, ganho ponderal de 4 Kg e melhora completa dos sintomas abdominais. Após 60 dias, uma cultura de líquido ascítico foi positiva para o complexo M. tuberculosis.
ConclusãoO diagnóstico da TB peritoneal exige uma alta suspeição clínica e combinação de achados clínicos, radiológicos e laboratoriais, pela baixa sensibilidade individual dos testes. Uma história clínica detalhada, com avaliação de antecedentes epidemiológicos e patológicos pregressos, a coleta de materiais biológicos adequados, por vezes por técnicas invasivas, contribui para um diagnóstico e tratamento adequados.