XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA tuberculose em coluna lombar (Mal de Pott) é uma doença da coluna vertebral que geralmente tem uma progressão lenta e insidiosa. Os principais sintomas de apresentação são dor axial e/ou radicular, com possível déficit neurológico. Em 50% dos casos a Ressonância Magnética revela abscessos de partes moles paravertebrais, além de lesão óssea e o atraso no diagnóstico pode comprometer o prognóstico do paciente.
Relato de casoPaciente 22 anos, sexo masculino, sem comorbidades, com história de queda da própria altura e dor lombar progressiva há cerca de 01 ano. Afebril no período, sem outras sintomas. Ressonância Magnética da admissão hospitalar foi sugestiva de Espondilodiscite de corpos vertebrais T12/L1. Foi submetido a biópsia óssea, coleta de culturas e anátomo-patológico, quando foi identificado Serratia marcescens MDR. Iniciado antibiótico guiado por culturas (ceftazidima-avibactam), porém o paciente persistiu dor lombar progressiva. Fez nova Ressonância Magnética cerca de 30 dias após início de antibiótico que evidenciou coleção em partes moles paravertebrais posteriores à esquerda e o paciente iniciou picos febris diários. Associado vancomicina ao esquema e o paciente foi submetido a nova abordagem cirúrgica ampla com artrodese de coluna lombar e nova coleta de culturas que identificou Pseudomonas stutzeri MDS. O Paciente mantinha antibiótico terapia guiado por culturas, porém persistia picos febris diários, quando então o anátomo-patológico mostrou severa reação inflamatória crônica contendo granulomas de células epitelioides e células gigantes multinucleadas com focos de necrose coagulativa. Foi iniciado esquema com RIPE e com três dias de tratamento o paciente ficou afebril e teve melhora clínica importante. A cultura foi positiva para Mycobacterium tuberculosis e o paciente teve alta hospitalar para seguimento ambulatorial, com proposta de tratamento de 12 meses, sendo 2 meses de RIPE e 10 meses de RI.
ConclusãoA tuberculose continua sendo uma preocupação conhecida e negligenciada no Brasil. Em 2021, o coeficiente de incidência foi de 32,0 casos por 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde. As infecções da coluna vertebral são geralmente secundárias à disseminação hematogênica de um local primário, como no caso relatado com história de trauma prévio. O envolvimento da coluna é responsável por metade das infecções esqueléticas por tuberculose e constitui 1-2% dos pacientes infectados pelo Mycobacterium tuberculosis.