O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV considerados prioritários pela OMS para o controle da doença. Dos casos notificados em 2017, 77,8% foram testados para HIV, 9,5% com coinfecção.
ObjetivoRelatar caso de diagnóstico de coinfecção recente HIV/TB com tuberculomas de apresentação atípica e múltipla.
MétodoPaciente de 48 anos, masculino, com teste rápido para HIV reagente, confusão mental, alteração de marcha, tosse e perda ponderal de 20 kg. Exame com ataxia de marcha, alterações de comportamento, tosse seca e taquipneia sem uso de musculatura acessória. Iniciou dessaturação dois dias após, atribuída à pneumocistose. Iniciado tratamento com sulfametoxazol + trimetoprim. Precisou de ventilação mecânica dois dias depois, por piora da insuficiência respiratória. Baciloscopia na secreção traqueal foi positiva, sendo iniciado tratamento para tuberculose com RIPE. Ressonância (RNM) de encéfalo identificou mais de 25 imagens córtico-subcorticais, com alto sinal em halo, realce anelar ao meio de contraste, sem alvo excêntrico definido, sugeridas pela radiologia como tuberculomas. Foi descartada toxoplasmose pela radiologia, dadas imagens. O líquido cérebro raquidiano (LCR) demonstrou 13 células com proteína de 44 e glicose de 41. A reação em cadeia de polimerase no LCR para M. tuberculosis veio negativa. A contagem de linfócitos T CD4 era de 21 cél/mm3 com 3.870.000 cópias. Paciente fez tratamento da tuberculose por um ano, considerando que as lesões do sistema nervoso central eram típicas de tuberculoma, mesmo sem encefalite (o que pode ocorrer nestes casos). Repetiu RNM encéfalo após o final do tratamento com desaparecimento de todas as lesões, à exceção das talâmicas cicatriciais, justificando comportamento pueril e alterações de memória sequelares.
ConclusãoA tuberculose no SNC causa mais frequentemente meningoencefalite. Entretanto, pacientes com contagem de CD4 abaixo de 50 cél/mm3 tem maior predisposição a formar tuberculomas. É essencial nestes casos realizar exames de imagem que consigam descartar lesões causadas pelo M. tuberculosis, fazendo diagnóstico diferencial com outras lesões focais oportunistas, como toxoplasmose e leucoencefalopatia multifocal progressiva.