Após o diagnóstico de HIV, as pessoas mantêm/restabelecem suas vidas sexuais, inclusive com parcerias soronegativas para o HIV. A compreensão dos fatores relacionados à vulnerabilidade do casal é essencial para delinear estratégias eficazes de prevenção do HIV. Este trabalho teve como objetivo estudar a prevalência de casais sorodiscordantes para HIV e seus fatores associados em uma cidade brasileira.
MétodosEstudo transversal analítico realizado com pessoas vivendo com HIV (PVHIV), com vida sexual ativa e em acompanhamento clínico-ambulatorial. Os dados foram coletados por meio de questionário estruturado durante entrevistas individuais em cinco Serviços de Atendimento Especializado (SAE) as PVHIV. Foram coletados dados demográficos, clínicos relacionados ao HIV (tempo de diagnóstico, tratamento, carga viral, contagem de células TCD4+), comportamento sexual nos últimos seis meses (prática sexual, numero de parcerias, estratégias preventivas) e dados relacionados aos aconselhamento sexual recebido pela equipe de saúde. A sorologia anti-HIV do Parceiro (Negativa/Desconhecida, Positiva) foi considerada a variável desfecho. A caracterização da amostra foi feita através de estatística descritiva. Para análise de associação, foram realizados os testes Qui-quadrado e Exato de Fisher. Para avaliar a associação entre as variáveis independentes sobre a sorologia do parceiro foi utilizado a análise de regressão logística. Adotou-se valor de p < 0,05. Foram calculadas as razões de chances (OR) brutas e ajustada e os seus respectivos Intervalos de Confiança (IC) de 95%.
ResultadosHouve 72,0% de parcerias sorodiscordantes para o HIV. Aqueles que usaram preservativos de forma inconsistente (aOR: 0,3 [0,13-0,7]) e/ou tiveram carga viral detectável pelo HIV (aOR: 0,29 [0,12-0,7]) apresentaram menor chance de ter parceria sorodiscordante para o HIV. Por outro lado, a falta de aconselhamento sobre a transmissão do HIV pelo serviço de saúde (aOR: 5,08 [2,02-12,76]), ou aqueles que tinham um parceiro casual (aOR: 8,12 [1,7-38,8]) ou um fixo e casual concomitantemente (aOR: 24,82 [1,46-420,83]), tinham maior chance de ter parcerias sorodiscordante para o HIV.
ConclusãoHouve alta prevalência de PVHIV em parcerias sorodiscordantes para o HIV. É necessário melhorar a visibilidade dos casais que vivem no contexto do HIV nos serviços de saúde. Os profissionais de saúde devem incorporar as parcerias sexuais nas estratégias de cuidado das PVHIV.