A sífilis gastrointestinal é uma doença infecto-contagiosa causada pela espiroqueta chamada Treponema pallidum. Embora raramente comprometido, o estômago representa a principal sede de lesões sifilíticas, seguido de canal anal baixo, como cólon e reto. É uma manifestação rara da sífilis, podendo ocorrer em sífilis precoce e tardia. Sinais e sintomas são variados como: cancro, condiloma, úlcera ou massa anal, sintomas de proctocolite: hematoquezia, dor anal, tenesmo ou anormalidades da mucosa, linfadenopatias, episódios de diarreia crônica, ou até pacientes assintomáticos. É transmitida mais frequentemente por via anal sexual insertiva. Os achados histopatológicos mais comuns são inflamação crônica, linfoplasmocitária e criptite. Há risco de diagnóstico errôneo com Doença inflamatória intestinal, levando ao atraso no tratamento, aumento do risco de transmissão e complicações como: fissura, fístula e estenose retal. Além da possibilidade de outras ISTs associadas, como, clamídia e gonorreia.
ObjetivoDescrever caso raro de sífilis intestinal, em paciente HIV positivo com diagnóstico presumido de neoplasia após investigação por imagem, com resolução completa dos sintomas após tratamento com penicilina benzatina.
MétodoJ.L.S.S, masculino, 50 anos, morador de zona urbana, solteiro. Iniciou com quadro de perda ponderal de 10 quilos em 5 meses, evoluindo com dor intensa para evacuar. Negava sangramentos ou corrimentos. Foi iniciada então investigação diagnóstica por meio de exames de imagem que constataram presença de espessamento de reto, com múltiplos linfonodos perilesionais.
ResultadosSolicitada então biópsia guiada por colonoscopia, que evidenciou atividade inflamatória acentuada de reto e canal anal. Exames de sangue evidenciaram sorologia reagente para o HIV, porém sem solicitação de sorologia para sífilis. Ao exame anatomopatológico foi observada presença de frequentes microorganismos na borda luminal da mucosa colônica evidenciados através da coloração de Warthin-Starry, compatíveis com espiroqueta intestinal. Iniciado então tratamento com penicilina benzatina 7.200.000 UI, com melhora completa da sintomatologia. Paciente segue em cuidados ambulatoriais, e mantém investigação para outras doenças oportunistas.
ConclusãoA sífilis deve ser considerada como diagnóstico diferencial de toda lesão ulcerada gastrointestinal, incluindo o carcinoma. Como resultado, ressecções cirúrgicas desnecessárias podem ser evitadas, com melhora substancial da morbimortalidade dos pacientes.