O sarcoma de Kaposi (SK) é a neoplasia mais intimamente associada à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Tem como características marcantes as lesões cutâneas violáceas, porém o potencial de acometimento visceral é significativo e as análises endoscópicas e histopatológicas são fundamentais para definir o diagnóstico e tratamento ideal.
ObjetivosDeterminar a sensibilidade de biópsia para o diagnóstico de SK de trato gastrointestinal (TGI), assim como descrever os principais achados relacionados a esta patologia.
MétodosEstudo observacional, retrospectivo e descritivo realizado no Instituto de Infectologia Emilio Ribas, centro de referência em doenças infecciosas e parasitárias, em São Paulo-SP, Brasil, referente ao período de 1 de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2019. Análises criteriosas de prontuários e laudos foram utilizados para determinar a sensibilidade, características clínicas, epidemiológicas, laboratoriais, histopatológicas e endoscópicas.
Resultados52 pacientes foram diagnosticados com SK, em 39 houve acometimento neoplásico em TGI. A sensibilidade encontrada para os exames endoscópicos de TGI foi de 87%. Os resultados falso-negativos (13%) foram provenientes de biópsias gástricas. Em TGI superior, 89% dos pacientes apresentaram lesões, e o estômago foi o sítio mais envolvido (87,1%). A maioria era do sexo masculino (89,7%), HSH (69%), com imunodepressão avançada (CD4+ < 200 células/mm³ em 79,4%). Ao todo, 41% eram assintomáticos e em 25,6% o SK foi a doença definidora de AIDS.
ConclusãoA biópsia de trato gastrointestinal no estadiamento de SK pode resultar em falso-negativo, mesmo em centros com elevada experiência. A suspeição clínica de potencial acometimento de SK em TGI, em assintomático ou não, deve ser considerada ao longo do acompanhamento terapêutico dos pacientes em grupo de risco.