A resistência antimicrobiana é considerada hoje uma ameaça global pela OMS e um desafio constante na prática médica intra-hospitalar. Bactérias resistentes aos carbapenêmicos, principalmente via produção de carbapenemases, frequentemente são relacionadas a infecções graves e com limitado arsenal terapêutico. Dessa forma, objetivou-se neste estudo a caracterização de microorganismos isolados conforme o perfil de resistência aos carbapenêmicos no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (CEMETRON).
MétodosEstudo retrospectivo no CEMETRON no primeiro semestre de 2021. Avaliação dos resultados de culturas provenientes do banco de dados não nominal do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar. Para as análises estatísticas utilizamos o SPSS® versão 25.0.
ResultadosNo primeiro semestre de 2021 o CEMETRON teve 303 culturas positivas, destas, 153 bactérias Gram negativas, sendo incluídas 61 (39,9%) resistentes a pelo menos um carbapenêmico. A topografia mais prevalente foi o aspirado traqueal (52,5%), seguido por sangue (18,0%) e urina (14,8%). Em ordem de prevalência tivemos 38 (62,3%) Klebsiella pneumonie, 12 (19,7%) Acinetobacter baumannii, cinco (8,2%) Pseudomonas aeroginosa, quatro (6,6%) Escherichia coli, uma (1,6%) Burkholderia cepacia e uma (1,6%) Serratia marcescens. Das 61 culturas incluídas, 19 (31,1%) foram avaliadas quanto a presença de gene de resistências enzimática, sendo 11 Klebsiella pneumonie, seis Acinetobacter baumanni, uma Pseudomonas aeroginosa e uma Serratia marcescens. Foram detectados genes enzimáticos de resistência em seis das 19 (31,6%) bactérias testadas, sendo quatro KPC detectáveis em Klebsiella pneumonie, dois OXA-51 e um OXA-58 detectáveis em Acinetobacter baumanni.
ConclusãoNosso estudo demonstra uma grande incidência de bactérias resistentes aos carbapenêmicos, quase 40% das culturas com bactérias Gram negativas no período. Importante ressaltar que a maioria dessas culturas eram de aspirado traqueal, o que pode estar relacionado com o atual cenário da pandemia de COVID-19, onde as infecções pulmonares secundárias são as mais prevalentes em UTIs. É de fazer notar a detecção de produtores de carbapenemases de classe A e D cujas terapias envolvem o uso de novos inibidores de beta-lactamases (p. ex. ceftazidima-avibactam) que não estão disponíveis na maioria dos hospitais da rede pública, nos restando terapias com menor índice de sucesso (p. ex. polimixina) comparados a medicação de primeira escolha.