XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoO dolutegravir se mostrou eficaz na supressão viral em pacientes naïve e multi-experimentados, com alta barreira genética e boa tolerabilidade. Apesar disso, o uso irregular dos inibidores de integrasse pode selecionar vias mutacionais de resistência, comprometendo inclusive o DTG.
Relato de casoLactente de 6 meses, sétima filha de sua genitora que vivia em situação de rua, não realizou pré-natal e chegou à unidade básica de saúde em período expulsivo onde a criança nasceu. Foram encaminhadas à Maternidade para cuidados, mas não foi realizado teste rápido para HIV. Um mês após o nascimento da criança, a mãe buscou o serviço de saúde com sintomas respiratórios e foi diagnosticada com Tuberculose, realizaram o teste para HIV com resultou positivo. A amamentação foi imediatamente suspensa. Na investigação descobriu-se que o genitor omitira seu diagnóstico de HIV e estava em abandono de tratamento. Nessa ocasião a bebê foi internada por pneumonia e foram coletadas cargas virais. A 1ª amostra com 2.457.360 cópias/mL log 6,390 e a 2ª amostra com 1.601.937 cópias/mL log 6,205, confirmando a transmissão vertical. Iniciou-se esquema com Lamivudina, Abacavir e Raltegravir. Recebeu alta em uso da TARV, Bactrim e Isoniazida. A busca ativa convocou o núcleo familiar para acompanhamento, realizou-se a 1ª genotipagem com sensibilidade a todas as classes (ITRN, ITRNN, IP e INI). A carga viral de controle apresentou aumento de mais de 2 logs, o que motivou nova genotipagem seis semanas após a primeira. O laudo identificou a mutação M184V, que compromete 3TC e ABC, e a via mutacional G140S + Q148R + L74I que confere resistência ao RAL, e apesar da alta barreira genética do DTG, também há resistência importante a este medicamento com a associação da Q148R + G140S. Por ter a protease limpa, optou-se pelo esquema com 3TC + AZT + KLT. A menor está sendo acompanhada pelo Conselho Tutelar e Agente Comunitário de Saúde para garantir adesão.
ComentáriosA situação de vulnerabilidade social foi um fator determinante na má adesão ao tratamento que culminou na seleção de mutações de resistência precocemente, mesmo com uma medicação de alta barreira genética. A busca ativa e o monitoramento dessa criança foram fundamentais para uma identificação precoce da falha e adequação terapêutica. As questões familiares e psicossociais devem ser trabalhadas de forma primordial na condução de gestantes e crianças, com especial ênfase nos grupos sociais marginalizados.