A Doença de Mormo, causada pela Burkholderia mallei, é uma zoonose que afeta equídeos. B. mallei também causa doença ocupacional em humanos, em quem têm contato frequente e próximo com animais infectados, como veterinários ou aqueles com exposição laboratorial, como microbiologistas. É uma doença relativamente desconhecida no Brasil com poucos dados epidemiológicos. Neste relato, é descrito o primeiro caso brasileiro relatado de Doença de Mormo em humanos, em uma criança do nordeste, e discutidas as características da doença. Menino, 11 anos, morador da periferia de Aracaju (SE), cuidador de cavalos, previamente saudável, iniciou quadro de dor torácica, dispneia e febre, com evolução de uma semana. Tinha uma abrasão em seu joelho esquerdo. Na admissão, encontrava-se com sepse, provavelmente secundária à endocardite infecciosa e recebeu oxacilina e gentamicina. Mesmo com o tratamento, evoluiu com pneumonia e surgiram inúmeros abscessos e posterior choque séptico. A drenagem dos abscessos foi feita e o material enviado para cultura, na qual houve crescimento de B. mallei. O paciente recebeu meropenem intravenoso por 21 dias e depois sulfametoxazol-trimetoprima, e teve melhora clínica. Recebeu alta em uso do mesmo tratamento por mais 12 semanas, com cura clínica. A Doença de Mormo é rara e os relatos de casos em humanos são escassos. Esta infecção é causada pela B. mallei, uma bactéria gram-negativa, aeróbia, formadora de esporos, intracelular facultativa. Em humanos, costuma ser doença ocupacional, adquirida por via respiratória ou contaminação de feridas. A forma aguda tem um período de incubação de 1-14 dias e o quadro é composto por sintomas constitucionais e de pneumonia, abscessos cutâneos e viscerais. O diagnóstico geralmente é complicado, pois é difícil o isolamento bacteriano nas culturas de abscessos e sanguíneas. O tratamento é prolongado e dividido em uma fase intensiva na qual é usado carbapenêmico por pelo menos 21 dias e uma fase de manutenção com sulfametoxazol-trimetoprima, que pode variar de 12 semanas a 12 meses. Mesmo quando tratada, a mortalidade é de cerca de 50%. Doença de Mormo é provavelmente pouco reconhecida. Esse caso demonstra as dificuldades que médicos podem enfrentar na identificação da infecção por B. mallei. Considerando a alta taxa de mortalidade, o contato com equídeos, em paciente séptico, com abscessos múltiplos e pneumonia deve levar à hipótese de infecção por B. mallei.
Journal Information
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
AO 20
Full text access
REPERCUSSÕES CLÍNICAS DA DOENÇA DE MORMO (INFECÇÃO POR BURKHOLDERIA MALLEI) EM UMA CRIANÇA BRASILEIRA: UM RELATO DE CASO
Visits
2174
This item has received
Article information
Special issue
Full text is only aviable in PDF