O vírus SARS-CoV-2, responsável pela doença COVID-19, além da infecção aguda, pode causar um quadro inflamatório tardio e exacerbado, com manifestações extrapulmonares, primeiramente visto em crianças e adolescentes, denominado como Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica. As evidências mostram que essa síndrome não se restringe a faixa etária pediátrica, mas em alguns casos, apesar de rara, já está presente entre indivíduos adultos. Suas implicações clínicas são significativas e, em casos graves, pode ser fatal. Além disso, os sintomas da síndrome muitas vezes se sobrepõem aos de outras infecções, como COVID-19 aguda grave e dengue, apresentando desafios para o diagnóstico imediato. Este caso ocorreu aproximadamente quatro semanas após o início dos sintomas da COVID-19 e atendeu a todos os critérios de diagnóstico definidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças. Trata-se de um paciente do sexo masculino, 34 anos, branco, sem comorbidades e sem uso de medicamentos. Hospitalizado com quadro de mal-estar, febre diária, vômitos, dor abdominal, mialgia difusa, confusão mental, prostração, inapetência, dificuldade de deambulação e lipotimia. Inicialmente, suspeitou-se que o paciente tinha dengue ou sepse, mas os testes subsequentes deram resultados negativos. À medida que a doença progredia, vários órgãos foram afetados, ocorrendo comprometimentos oculares (conjuntivite), cutâneo (rash cutâneo), renal (Insuficiência Renal Aguda e injúria renal) e cardíaco (comprometimento miocárdico) associado a choque, levando à morte. O óbito ocorreu trinta e três dias após o início dos sintomas da COVID-19. O caso foi investigado e notificado e após avaliação, o Ministério da Saúde, concluiu que tal evento preenche os critérios de definição de caso, sendo confirmada a Síndrome Inflamatória Multissistêmica em adultos associada à COVID-19, não havendo outro diagnóstico que melhor justifique o quadro clínico, decorrendo no primeiro óbito no Brasil. Com o advento da vacinação, que reduziu a incidência de COVID-19, é crucial aumentar a vigilância da Síndrome Inflamatória Multissistêmica para evitar que os casos sejam subdiagnosticados ou diagnosticados incorretamente. Reconhecer a importância de suspeitar dessa síndrome e iniciar o tratamento precocemente é essencial para minimizar danos e mortalidade.