Staphylococcus aureus é causa comum de infecções em Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHIV), apesar de não ser um agente oportunista. É descrita maior frequência de S. aureus resistente nesse grupo. As infecções estafilocócicas mais graves cursam com bacteremia e metástases, que podem aumentar o tempo de tratamento e a mortalidade. Relatamos o caso de um homem cisgênero de 54 anos, PVHIV em uso irregular de Terapia Antirretroviral (Carga Viral 13.909 cópias/mL Linfócitos TCD4 239/mm3 recentes) e Diabetes Mellitus tipo 2 mal controlado (HB1Ac 9,8%), que procurou atendimento devido a turvação visual direita 24 horas antes. Ao exame, acuidade visual diminuída à direita, presença de hipópio e biomicroscopia com células 4+/4+ e flare 2+/4+, sendo prescrito dexametasona colírio com a hipótese inicial de Uveíte Anterior associada a Espondiloartropatia Soronegativa, tendo em vista uma queixa de dor lombar crônica sem diagnóstico. Retorna após 48 horas com celulite em braço esquerdo e coxa direita, leucocitose (23.950/mm3), Proteína C Reativa 34 mg/dL(ref < 0,5) e lesão renal aguda (CKD-EPI 37,4 mL/min/1,73 m2). Iniciada Clindamicina endovenosa. Em 48 horas, resultado de hemocultura com S. aureus Resistente a Oxacilina, Sensível a Clindamicina, sulfametoxazol-trimetoprima (SXT) e Daptomicina. Clindamicina trocada por Daptomicina. Ultrassonografia de partes moles mostrou coleção entre os músculos reto femoral e sartório direitos, medindo 3,6x1,6 cm. Tomografia de coluna vertebral e bacia sem sinais de osteomielite ou sacroileíte. Ecocardiograma transtorácico sem evidência de endocardite. Realizado diagnóstico de Piomiosite e Endoftalmite por S. aureus resistente de comunidade (CA-MRSA). Paciente obteve melhora clínica após 10 dias de antibióticos venosos, recebendo alta com SXT oral por 14 dias. Após 24 dias do seguimento, apresentava melhora visual, normalização da função renal e de parâmetros inflamatórios. Bacteremia por S. aureus cursa com metástases em cerca de 20-30% dos casos. Acometimento ocular ocorre em aproximadamente 9% dos casos. Embora classicamente associada a crianças em países subdesenvolvidos, a piomiosite nos dias atuais afeta com maior frequência pacientes imunossuprimidos e diabéticos, podendo cursar com bacteremia em 10 a 35% dos casos. Essas manifestações metastáticas são complicações importantes que implicam em maior tempo de tratamento. CA-MRSA tem sido frequente em infecções estafilocócicas em PVHIV, limitando escolhas terapêuticas.
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Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
EP 163
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PIOMIOSITE E ENDOFTALMITE: QUANDO UMA BACTÉRIA EXPLICA TUDO
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Matheus Oliveira Bastos, Ana Beatriz Pacheco da Silva, André Luiz Land Curi, Cristiane da Cruz Lamas
Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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