Os inibidores de integrasse (INSTI) são as drogas de maior eficácia aprovada para o tratamento da infecção do HIV. Sua alta potência e barreira genética, aliada à tolerabilidade tornaram o Dolutegravir (DTG) primeira escolha em diversos guidelines, inclusive no Brasil. Todavia, antes de sua aprovação, uma parcela importante de pacientes foram expostos ao Raltegravir (RAL), uma droga de baixa barreira genética. Os impactos dessa exposição têm se tornado nítidos, podendo afetar o uso do DTG. O objetivo do estudo é avaliar o perfil de resistência genotípica aos inibidores de integrasse com impacto no DTG em adultos que vivem com HIV, expostos previamente ao RAL.
MétodosCoorte retrospectiva, a partir de dados de prontuários eletrônicos e de resistência genotípica do HIV contidos no Sistema de Controle de Exames Laboratoriais, realizados pelo programa da Rede Nacional de Genotipagem, de pacientes em seguimento ambulatorial no serviço de infectologia de hospital de referência no Estado de Goiás.
ResultadosForam avaliados um total de 22 adultos, incluindo gestantes. A idade média ao diagnóstico de HIV foi de 30 anos (dp = 8,26); 68% eram do sexo feminino, sendo 5 gestantes; todos tinham feito uso prévio de RAL, com exposição a ≥ 2 esquemas de terapia antirretroviral (TARV). Houve presença de resistência à classe INSTI em 100% dos casos. Na análise genotípica foram identificados 18 códons de resistência; os mais frequentes: T97A(31,8%), G163R (27,27%) e N155H(22,72). Destes pacientes com resistência aos INSTI, 5 apresentavam resistência intermediária ao DTG, 3 de baixo nível e 4 potencialmente baixo nível de resistência. Não houve resistência completa ao DTG e apenas 9 deles com a droga plenamente ativa. Doze adultos apresentaram resistência para a classe de inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos, 11 para inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos e 9 para inibidores da protease.
ConclusãoHouve maior incidência de resistência entre as mulheres, população que geralmente apresenta pior adesão à TARV, além de exposição ao RAL na gestação. O uso prévio de ≥ 2 esquemas de TARV, notadamente com baixa barreira genética, provavelmente contribuiu com a resistência do vírus. O DTG, a despeito das mutações detectadas, ainda se mostrou efetivo como ferramenta de resgate. Drogas com elevada barreira genética e potência são essenciais para minimizar a resistência e garantir supressão viral sustentada.