A ossificação heterotópica (OH) é uma condição patológica rara, porém potencialmente incapacitante, caracterizada pela formação de tecido ósseo anômalo em partes moles sem conexão com periósteo. Localizada preferencialmente ao redor de articulações, a OH é comumente descrita em pacientes com lesão neurológica central ou periférica, trauma e em grandes queimados. Descreve-se um caso de uma mulher de 52 anos, portadora de hipertensão arterial e asma brônquica, que apresentou um quadro grave de COVID-19 com necessidade de ventilação mecânica invasiva e pronação por 37 dias. Foi tratada com corticoide, anticoagulação profilática, sedativos, analgésicos e bloqueador neuromuscular. Durante o período de cuidados intensivos, apresentou um quadro séptico secundário a uma infecção de corrente sanguínea por uma enterobacteria produtora de carbapenemases. O tempo total de internação hospitalar foi de 76 dias. Como sequela, evoluiu com tetraparesia secundária a uma polineuromiopatia do doente crítico e uma dor de forte intensidade com limitação à movimentação do quadril direito. Ressonância nuclear magnética dessa articulação evidenciou uma volumosa OH periarticular femoroacetabular à direita. Optado pelo tratamento conservador da OH com melhora evolutiva da mobilidade e da dor do quadril com as atividades de reabilitação. Com base neste relato, buscaram-se na literatura estudos originais publicados em qualquer período, em inglês ou português, que descrevessem o relato de OH em pacientes com COVID-19 nas seguintes bases de dados: Pubmed e Lilacs. Estratégia de busca: PubMed (COVID-19 AND Heterotopic ossification) e Lilacs (COVID-19 AND ossificação heterotópica). Quatro artigos foram encontrados com o total 17 casos de OH em pacientes com COVID-19. Maioria era de pacientes com formas graves da COVID-19 com necessidade de ventilação mecânica invasiva (n = 16/17; 94,11%). A etiopatogênese da OH associada à COVID-19 é incerta. Possíveis fatores contribuintes: imobilização prolongada, resposta inflamatória, distúrbios metabólicos e hipóxia tecidual. Deve-se considerar a possibilidade de OH em pacientes com COVID-19 grave associada a imobilização prolongada que evoluem na fase de recuperação com dor articular ou muscular intensa. O diagnóstico é baseado nas manifestações clínicas e confirmado com exames de imagem. Recomenda-se a mobilização precoce como principal estratégia para prevenir a OH em pacientes com COVID-19 grave durante o período de internação hospitalar.
Journal Information
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
PI 050
Full text access
OSSIFICAÇÃO HETEROTÓPICA NA COVID-19: RELATO DE CASO E REVISÃO DA LITERATURA
Visits
2466
Guilherme José da Nóbrega Danda
Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasil
This item has received
Article information
Special issue
Full text is only aviable in PDF