A metemoglobina (MTE) é a hemoglobina oxidada no estado férrico (Fe 3+), diferente de sua configuração normal no estado ferroso (Fe 2+). A MTE não consegue se ligar ao oxigênio, comprometendo sua distribuição aos tecidos. Pode ser congênita ou adquirida, sendo a última causada por agentes exógenos como medicamentos, resultando em quadro com múltiplos diagnósticos diferenciais, que se não tratado pode levar ao óbito.
ObjetivoRelatar o caso de um paciente indígena com metemoglobinemia após uso de primaquina, atendido no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (CEMETRON) em Porto Velho - RO.
MétodoMasculino, indígena, 17 anos, procedente da aldeia Karitiana - RO, deu entrada no CEMETRON em Porto Velho - RO com diagnóstico microbiológico prévio de Malária Vivax, em tratamento com primaquina há 5 dias, tendo realizado cloroquina por 3 dias. À admissão, queda do estado geral, saturação de oxigênio (SO2) 90% e dispneia, sendo necessário oferta de oxigênio por cânula nasal 4 L/min. Verificou-se dissociação de SO2 de 99,8% na gasometria arterial comparada a oximetria de pulso de 93%. Laboratoriais do serviço mostraram plaquetopenia de 35.000/mm3 e pesquisa de Plasmodium negativo. Aventada hipótese de associação com dengue, realizada prova do laço negativa, descartados sinais de sangramento espontâneo e realizado expansão volêmica. Solicitadas dosagem de G6PD e MTE e sorologias para Leptospirose e Dengue.
ResultadosNíveis de G6PD 7,8 U/g hb e metemoglobina 9,9%, representando metemoglobinemia, sem deficiência de G6PD. Mantido O2 em máscara de alto fluxo 9 L/min, mantendo SO2 entre 93-95%. Leptospirose IGM não reagente e Dengue IGM reagente. Evoluiu com melhora do quadro, sendo feito retirada gradual da oferta de O2, com boa tolerância, até SO2 95% em ar ambiente, e elevação de plaquetas 411.000 mm3. Alta hospitalar com prescrição de cloroquina profilática semanal, por 3 meses para prevenção de recaída em substituição à primaquina.
ConclusãoA Metemoglobinemia adquirida causada por uso de antimaláricos, como a primaquina, foi descrito em estudos clínicos. O diagnóstico é clínico, devendo ser suspeitado em pacientes que apresentem baixa leitura de saturação ao oxímetro de pulso sem que haja comprometimento cardiopulmonar significativo. Mesmo em áreas de risco para malária, a suspeição clínica para dengue deve ser mantida.