Criptococose é uma micose sistêmica causada por leveduras encapsuladas do gênero Cryptococcus, que acometem principalmente o Sistema Nervoso Central, causando meningoencefalite.
ObjetivoAvaliar os fatores de risco associados ao óbito, e a sobrevida aos 12 meses de pacientes com meningoencefalite por Cryptococcus spp. (MC).
MétodoEstudo de coorte retrospectivo, onde foram incluídos pacientes admitidos no Hospital São José de Doenças Infecciosas, localizado em Fortaleza/CE, que foram diagnosticados entre 2010 e 2018 com MC. Os dados foram coletados através da revisão de prontuários. Óbito durante a hospitalização foi considerado o desfecho primário. Análises estatísticas foram realizadas, sendo considerado significante um p-valor < 0,05.
ResultadosDe 2010 a 2018, 21.519 pacientes foram admitidos no HSJ, destes 125 pacientes apresentaram diagnóstico de MC. A taxa de incidência desta micose foi de 5,8 casos/1.000 hospitalizações. Foram incluídos no estudo 113 pacientes; 12 pacientes foram excluídos devido a falta de informações em prontuários. O sexo masculino foi o mais acometido (81,4%), e a mediana de idade foi de 37 anos [IIQ: 29-44]. Coinfecção com HIV ocorreu em 79,6% dos pacientes. Febre (65,4%) e cefaleia (87,6%) foram os sintomas mais frequentes. Alteração do estado mental, e uma maior contagem de células no líquor foram os fatores mais associados com MC em indivíduos não HIV (p < 0,05). Entre os pacientes com infecção pelo HIV (n = 90), MC representou a primeira infecção oportunista em 23,3% dos casos; 69 (76,7%) pacientes eram sabidamente HIV positivos previamente à admissão hospitalar. O tratamento de indução mais usado foi realizado com anfotericina B desoxicolato (AmB-D) associado com fluconazol, administrado em 104 pacientes. A mediana do tempo de uso da AmB-D foi de 16 dias [IIQ: 8-26], e de fluconazol de 22 dias [IIQ: 14-32]. Óbito durante o internamento ocorreu em 29,2% dos indivíduos. Os fatores de risco independentes associados ao óbito durante a hospitalização foram sexo feminino (p = 0,006), idade > 35 anos (p = 0,034), alteração do estado mental (p = 0,035) e infecção pelo HIV (p = 0,024). Durante o seguimento clínico, sete pacientes foram a óbito por outras causas. A sobrevida aos 12 meses foi menor em pessoas que vivem com HIV (55%) do que em indivíduos HIV negativos (77% - p =0,029).
ConclusãoEstratégias para diagnóstico precoce e tratamento de indução mais eficaz, principalmente em indivíduos HIV positivos, devem ser priorizadas a fim de minimizar o risco de morte.