XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoAs lesões de órgão-alvo secundárias ao citomegalovírus (CMV) em pessoas vivendo com HIV (PVHIV) se apresentam classicamente no contexto de imunodepressão grave. Atualmente, dispomos de poucos dados sobre o acometimento do CMV no trato digestivo em PVHIV no Brasil. Os objetivos deste estudo foram identificar a prevalência de lesões de órgão-alvo por CMV no trato digestivo de PVHIV com imunossupressão grave e descrever as principais características clínicas e laboratoriais dessa população.
MétodosEste foi um estudo observacional, de coorte e retrospectivo, conduzido no IIER, centro terciário localizado em São Paulo. Foram incluídos os casos internados entre janeiro e dezembro de 2019, com diagnóstico confirmado de infecção por HIV-1, contagem de linfócitos T-CD4+ (LT-CD4+) ≤ 100 células/µL e com realização de um ou mais exames de detecção quantitativa de DNA de CMV no plasma durante a internação. Dentre eles, foram identificados os casos com diagnóstico histopatológico de lesões de órgão-alvo secundárias ao CMV no trato digestivo.
ResultadosIdentificamos 10 (3,8%) casos com acometimento do trato digestivo secundário ao CMV dentre 261 casos avaliados. Em 9 (90%) casos, a doença citomegálica foi definidora de aids. Nove (90%) casos eram do sexo masculino, com média (intervalo de variação) de idade de 44 (31 - 56) anos e média de LT-CD4+ de 13 células/µL. Os 10 pacientes apresentavam detecção quantitativa de DNA de CMV no plasma com média (intervalo de variação) de 113.431 (196 – 969.535) UI/mL. As principais formas clínicas de acometimento do trato digestivo foram esofagite, sete (2,7%) casos; úlceras mucocutâneas, dois (0,8%) casos; proctite, dois (0,8%) casos; gastroenterite, um (0,4%) caso; e colite, um (0,4%) caso. Dentre os 10 casos com acometimento do trato digestivo por CMV, oito receberam tratamento anti-CMV e um (10%) faleceu devido à pneumonia hospitalar.
ConclusãoA prevalência de lesões de órgão-alvo secundárias ao CMV no trato digestivo de pacientes com aids e imunossupressão severa foi de 3,8%, similar ao descrito em estudos realizados na era pré-TARV, e a esofagite citomegálica foi a forma clínica mais frequente. A maioria dos casos apresentou a doença citomegálica no trato digestivo como doença definidora de aids e após tratamento anti-CMV, teve alta hospitalar. Todos os casos com lesões de órgão-alvo no trato digestivo apresentaram detecção quantitativa de DNA de CMV no plasma, com valores variáveis.