XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA coinfecção Leishmaniose visceral com o vírus HIV (LV-HIV) é uma condição de alta gravidade. No Brasil, a LV é causada essencialmente por uma única espécie, a Leishmania infantum. Nota-se, na coinfecção, uma maior frequência de apresentações atípicas, ou seja, o envolvimento de órgãos não pertencentes ao sistema reticulo-endotelial, entretanto, manifestações cutâneas não são usuais. A leishmaniose dérmica pós-calazar (LDPC) é uma entidade relacionada caracteristicamente à L. donovavi. Mais prevalente na Índia, esta forma ocorre em 5-10% dos casos, após 6 meses a 1 ano do tratamento para LV. A LDPC caracteriza-se pelo surgimento de máculas que evoluem para pápulas e nódulos na face e tronco. Na sequência, relata-se o caso de um paciente com LDPC no contexto de coinfecção LV-HIV relacionada a L. infantum. Trata-se de paciente do sexo masculino, 61 anos, natural de Belo Horizonte (MG). O paciente teve diagnóstico da infecção pelo HIV em 2018. Na ocasião, apresentava carga viral do HIV de 2.266.862 cópias/mL (log 6,35) e linfócitos TCD4 de 33 células/mm3 (3.8%). Em 2020, apresentou LV com quadro clínico clássico e teste rápido para LV positivo, tratada com anfotericina B lipossomal 20 mg/kg. Evoluiu com critérios clínico-laboratoriais de cura, mas manteve profilaxia secundária de forma irregular. Após 4 meses, surgiram lesões nodulares, inicialmente em membros superiores, que progrediram como máculas, pápulas e nódulos em face, região cervical e tronco. Foi realizada biópsia de uma das lesões que mostrou derme com histiócitos espumosos e numerosos ninhos de amastigotas intracitoplasmáticos. Foi realizada a identificação específica através da técnica RFLP (Randon Fragment Lenght Polymorphidm) que revelou a L. infantum. Foi realizado novo ciclo de tratamento com anfotericina B lipossomal com 40 mg/kg, porém sem resposta clínica satisfatória. Após o primeiro tratamento, o paciente apresentou três recidivas cutâneas, sendo submetido a novos ciclos de tratamento, entretanto sem remissão das lesões. Atualmente encontra-se em bom controle virológico em uso de Lamivudina e Dolutegravir, mas sem recuperação imunológica, com último LTCD4 de 211 células/mm3 (16,45%). A identificação da espécie foi primordial para o diagnóstico da LDPC, visto que é raro o envolvimento cutâneo a partir da forma viscerotrópica presente no Brasil. A relevância do presente relato é descrever um comportamento oportunista pouco usual da L. infantum, na vigência de imunossupressão grave.